quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Autocriação


Juan Carlos Ramirez Abadía é o nome do traficante colombiano preso ontem em um condomínio na Grande São Paulo. Pelo que consta, era o segundo na lista dos criminosos mais procurados pelo Departamento de Estado norte-americano (a recompensa por informações que levassem a ele era de US$ 5 milhões), ficando atrás apenas de Osama Bin Laden (recompensa de US$ 27 milhões). Deixando de lado os julgamentos morais e as palavras de revolta branca, pois nada disso faz sentido, e deixando também de lado a conversa que enxerga apenas os dólares, pesos argentinos e relógios encontrados na casa de Abadía, vemos o rosto do homem. Mas qual homem?
Buscando poder usufruir do dinheiro acumulado ao longo dos anos e seguir tocando adiante seus negócios, Juan deixou de ser Juan, passando a exibir sobre o crânio uma máscara de carne que era a sua receita de liberdade. Plásticas apagaram do mundo o garoto que nasceu em algum lugar da modesta Palmira e que escreveu seu nome na recente história colombiana com toneladas de cocaína e diversos assassinatos, como os dos 35 amigos e familiares do traficante Víctor Patiño Fómeque, que, preso pelo governo estadunidense, teria delatado Abadía às autoridades locais.
Para viver como o rei que sempre sonhou ser, o dono do Cartel Norte Del Valle - detentor de uma fortuna avaliada em US$ 2 bilhões - precisou chegar ao inimaginável extremo de abrir mão de sua própria imagem, tornando-se um ser estéril, autocriado, um ciborgue do desespero, uma Angela Bismarchi em fuga. Talvez tenha aproveitado a necessidade para estampar no rosto o queixo e o nariz que sempre quis ter, bem como os traços angulares que costumava admirar em outras pessoas.
Juan, possuidor de uma vasta coleção de obras de arte, levará para sempre consigo as marcas do tempo em que o mundo era possível, e era seu.

Um comentário:

Unknown disse...

Tenho a impressão que ele era fã do Fred Mercury. ;) tem algo na cara dele que me lembra o vocalista e lider da banda inglesa.