quinta-feira, 30 de julho de 2009

Mau céu

Em algum momento do dia
Vi crianças felizes na rua
Pensei que há tempos não via
Nenhuma delas
Com sérios problemas de saúde
Daqueles tipos visualmente identificáveis
E até pensei que Deus poderia estar andando mais bonzinho
Esquecendo possíveis karmas
E se concentrando no aqui e no agora

Foi pensar isso
Descer alguns andares
Para ver uma mãe com um filho de um ano no colo
E a situação da criança
Queimada
Me fez reconsiderar algumas impressões
E ficar muito puto com o céu

terça-feira, 28 de julho de 2009

Ferrado como um vampiro à moda antiga


Conseguiram "nerdilizar" os vampiros. Ou melhor, "emotizar" e "nerdilizar". Eu, pequeno, com medo do Christopher Lee, é uma imagem surreal hoje em dia. Tudo porque pegaram o carinha da Transilvânia e o humanizaram, o ridicularizaram, transformando a besta em uma espécie de ursinho de pelúcia com dois dentes afiados mas com muito amor atormentado no coração.

E isso é uma verdadeira receita de sucesso, algo prontamente consumido. Todos lêem, todos vêem. E até gente estranha como Thom Yorke já ingressou na parada, colocando músicas do Radiohead na trilha do tal "Crepúsculo" e de sua sequência. Estranho. É como ceder sua imagem para um anúncio de algum produto tão jovem e bobo que nem consigo imaginar. Talvez um... filme mesmo. Com os Jonas Brothers, por exemplo.

E pergunto se os Jonas Brothers não são vampiros. O NX Zero não seria uma banda de vampiros, que sugam sangue jovem e oferecem em troca uma vida sem vida? Ah, sim, é isso o que eles fazem.

Cacete. Transformaram bestas sinistras em um estúpido artigo jovem. Se apoderaram do charme e da melancolia desses personagens e agora vendem requeijão. Claro... Frankenstein não venderia requeijão. No máximo uns piercings em forma de parafuso.

Penso nisso tudo por ultimamente ter me sentido meio vampiro. Mas no sentido romântico da coisa, com a imagem romântica à mente. E não me sinto assim por causa de uma possível sede de sangue ou eventuais empalações a la Vlad Dracula. Tenho é trocado o dia pela noite, e saindo de casa quando o sol já pegou seu ônibus de volta pra casa. E isso é estranho. E ruim. Acho que estou com saudades de não me sentir como um ser que sai à rua, quando sai, apenas quando a vida local está cansada, as portas fechadas, quando baratas se animam a espalhar seu cheiro pelas encruzilhadas embueiradas.

E o dia de amanhã provavelmente não será diferente. São 6h02. Ainda não durmo, mas minha imagem ainda aparece no espelho. Acho eu. Alguns quilos a menos nas últimas semanas, já que horários estranhos comem refeições, não deixando algumas delas para mim.

Ainda apareço no espelho, se bem que vampiros modernos devem aparecer no espelho, comer deliciosas refeições carregadas no alho etc. São modernos, ora. Se bem que gente muito moderna deve ser fresca o suficiente para odiar alho. Idiotas. Alho é bom pra cacete.

Vampiros modernos devem morrer apenas quando acaba o lápis de olho ou a bateria do celular.

sábado, 25 de julho de 2009

Zé Carlos: ídolos nunca morrem


Grande Zé Carlos,

Escrevo-lhe para lhe desejar força e paz. Com isso em mente, tudo fica mais fácil. Originalmente, essa mensagem foi enviada a você em forma de e-mail, quando ainda estava no hospital. Mas, agora, em um novo momento, já sem dor e sofrimento, sinto que é ainda mais necessário transmiti-la a você.

Hoje tenho 29 anos, mas em 87, aos 7, descobri o maravilhoso mundo do futebol. E logo a primeira esquadra rubro-negra que conheci e amei foi a de 87, com você no gol. E por mais que tivéssemos a genialidade de Zico e o talento rebelde do Renato no nosso time, o presente de dia das crianças que pedi para minha mãe não podia ser outro: um uniforme completo de goleiro. Por causa de você.

Quando agarrava, chamava a mim mesmo de estranhos nomes, como Zé Teixeira ou Marcio Carlos, e imaginava que era você quem, por meio de mim, fazia fantásticas defesas de chutes nem tão fantásticos do meu pequeno irmão.

Ali, na garagem vazia de nossa casa, eu era, inquestionavelmente, o Zé Carlos!

Posso dizer com toda a certeza que você foi o meu primeiro grande herói. E até hoje, quando penso em Flamengo e penso em um goleiro, o nome e a imagem de José Carlos da Costa Araújo me vêm à mente imediatamente.

Um grande abraço, Zé. Paz.

Desse seu amigo e fã incondicional,

Marcio Teixeira de Mello Jr.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Insônia

Não consigo dormir
Na dor de não dormir
Pavor de não dormir
Querendo só dormir

Não acho a posição
Nem a aniquilação
De todo pensamento
Sobre o hoje
O ontem
E o depois de amanhã

Temo a mente vazia
E toda e qualquer fria
Que ela pode armar pra mim
Embora só com ela assim
Dizem haver a paz

Paz no fechar de olhos
E no pensar em nada
Temendo, ligo o som
E ouço discos
Como discos em uma estrada

Às duas passa um avião
Às três começa a feira
Às quatro quero a concentração
Ou talvez a descontração
Para fugir da beira

Um remédio é pouco
Dois, vi não adiantar
Três eu já nem penso
Pois quero acordar

Medo do pesadelo
Tocar o mundo e perdê-lo
Como os dentes e as vidas
Nessas idas e vindas
A um mundo que agora sempre custo a visitar

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Sobrancelhas, pilhas, descongelamento, descontrole e Mars Volta

Então, nesse sonho, minha mulher aparecia com uma monocelha
E achava que estava legal
Falei "tudo bem", mas que ela mantivesse as sobrancelhas guardadas
E guardadas dentro de um pequeno rádio
Suas sobrancelhas eram, então, pilhas pequenas
E o rádio, com elas ali dentro, passava a funcionar
Sobrancelhas, eram, de fato, sombrancelhas

Em outra parte do mesmo sonho
Minha mãe dirigia um fusca azul em sua querida Araruama
Mas o fusca uma hora passava a ignorar os comandos da hábil motorista
E andava sem controle algum
Tudo porque um grande pedaço de carne havia descongelado em seu interior
Mas tudo terminava bem

Abaixo, os dois novos vídeos do Mars Volta. Assista com amor.

Cotopaxi



Since We've Been Wrong

As verdades

Primeiro dia de aula na minha turma da primeira série do primeiro grau. Todos têm sete anos. Todos já sabem ler. Venho do turno da manhã. A grande maioria da turma já se conhece de outras tardes.

Logo nos primeiros minutos, já na sala de aula, mas antes da aula em si ter início, percebo na boca dos colegas que o mundo agora é permeado por palavras misteriosas que claramente indicam uma tentativa tola de ser menos criança. Depois fui saber que eram palavrões.

Também ouço alguém dizer que Papai Noel não existe. Pulga atrás da minha orelha. Tolos. Não sabem o que dizem. Dias depois, depois de eu muito insistir, minha mãe acabou confirmando a versão. É, eu estava em meio a adultos.

Então, na sala, antes do início da aula, como minutos antes da criação do universo, há alguma conversa. Sou eu e mais uns quatro meninos. A vontade de ser grande impera e a competição masculina, que aos seis anos, nas manhãs do CA, não sentia existir, agora é tudo o que importa. Sinto que parece certo ou pelo menos normal adentrar esse mundo. Joguemos.

Cada um analisa seus livros e a agenda recém-distribuída. Perguntas e respostas são as armas, os instrumentos de imposição, de afirmação. Cada menino precisa provar ao outro que é, de fato, o mais inteligente.

Logo alguém pergunta qual o maior estado do Brasil, como se estivéssemos em um quiz show infantil transmitido em rede nacional, e cujos resultados definiriam o "quem é quem" ao longo do ano. Respondo, sem pensar muito, pois era claro: "Amazonas!". Mapas geográficos e do corpo humano me interessavam bastante. Piauí, Pernambuco, húmero, tíbia, perônio, carpo e metacarpo.

"Burro...", alguém rebate. "Amazonas não é estado, é floresta!", e todos os outros imediatamente concordam. Percebo que o debate nada tinha a ver com inteligência ou conhecimento. Eram só crianças agindo como pessoas. Não retruquei.

"E alguém sabe se existe, no mundo, algum país com 'H'?", alguém levanta logo em seguida.

"Holanda!", digo. Se eu sabia, por que não dizer?

"Tá errado", alguém afirma. "Pois se fosse com 'H', falaríamos 'Rolanda'", completa, com toda a verdade, sabedoria e autoconfiança que o universo conseguiu concentrar ao longo de sete anos em seu corpo/cérebro/alma. E todos concordaram, admirando o saber do amigo.

Minutos depois, surgiu o universo. A professora escreveu seu nome no quadro e, com isso, iniciou o trajeto escolar pós-alfabetização que cada um, ao longo dos anos, seguiria do próprio jeito.

Mas o que estava feito, estava feito. E estava claro: sempre existiriam tais "alguéns", e a verdade andaria sempre ao lado deles, por mais errados que estivessem. E, amanhã, na falta da verdade, apelariam para a esperteza ou para os grandes feitos. Mas aos sete, tudo já estava definido.

Nem retruco.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Roberto Carlos - serei breve

Se um chimpanzé fosse escolhido apresentador do programa de tv que lançou a Jovem Guarda, ontem comemorariam os 50 anos de carreira dele.

Viva TIM MAIA!!!!!!!!!!!!!

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Distratações

O chão está vivo
E tudo é o chão

Mesmo
Aquele humilde choro de Jericó
Aquela linda idéia de Girico
Querem que o dia acabe
Na demência que mostra como viver

Sim, querendo ser um alcoólatra
Que respira em ritmo ao gosto do freguês
Escale uma montanha e encontre o pedido de desculpas de Deus

Bisbilhoteria

Lunula é um nascer do sol

É uma época de desabamentos

sábado, 4 de julho de 2009

The Michael Jackson Mixtape


Mas o som fica. E fica direto.

Abaixo, as faixas da mixtape que finalizei há menos de uma hora e que foi construída a partir de sons dos discos "Music & Me" (1973), "Forever, Michael" (1975), "Off The Wall" (1979), "Thriller" (1982), "ABC" (1970) e "Goin' Back To Indiana" (1971), sendo este dois últimos dos Jackson 5.

Para baixar a mixtape, clique aqui. E dance.

01. Off The Wall
02. Burn This Disco Out
03. Baby Be Mine
04. Get On The Floor
05. We're Almost There
06. Rock With You
07. Take Me Back
08. Billie Jean
09. I Can't Help It
10. I Want You Back
11. Workin' Day And Night
12. Beat It
13. Euphoria
14. Wanna Be Startin' Somenthin'
15. Just A Little Bit Of You
16. PYT (Pretty Young Thing)
17. Thriller
18. Abc
19. Dear Michael


quinta-feira, 2 de julho de 2009

Som cinza e negro

É um tipo de sonho
Mas com a ciência de que se está acordado
De olhos fechados
Na cama
Era relaxar um pouco
E um som terrível, de tv fora do ar
Misturada a palavras
Que vinham de um círculo vermelho
Sabia que vinham de lá - via o círculo
Tomavam conta da minha cabeça
Alto a ponto de eu chamar por ajuda
E nem escutar minha própria voz
E assim foi
Umas três vezes em uma mesma manhã
Indo e voltando
Fechando e abrindo os olhos
Entrando e saindo desse mundo torto
Em um último esforço
Como o de alguém que não quer se afogar
Pulei fora
E cataloguei