segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Barata - O Sabor do Verão

Matei uma barata que subiu na minha perna. Talvez a tenha matado apenas pela petulância da moreninha. Subir na minha perna, assim, de uma hora para outra, sem conversa... Agora ela reside no céu das baratas. O céu com o qual Kardec deve ter sonhado algum dia. O céu que Jesus algum dia deve ter tido uma visão a respeito. O céu onde camarões e baratas voam sorrindo.
Baratas são crocantes. Com limão, devem ser deliciosas. Tira-se as antenas (que são cabelos, ora, e cabelo na comida não é legal), as asas são cortadas. Cozinhe. Depois frite ou não. E limão, bastante limão. Uma iguaria tropical, com o sabor do verão carioca.
A zona sul descobriu as baratas. Pratos de todos os tipos em toda orla. Saladas fantásticas com rúcula, alface americana, baratas e molho italiano. O molho é, de fato, opção do cliente. Batatas com baratas. Batatas com baratas de recheio. Hmmm. Que cheirinho... Salsa, cebolinha e baratinhas. Que beleza! E no pastel? Aquelas perninhas cerrilhadas, o abdômen suculento e o suave molho branco que o bichinho esconde dentro de si. Dependendo do tempero, o sangue é doce ou salgado, e dependendo do nível de cozimento, pode ser líquido e fornecer uma fina porção da mais gostosa sopa ou cremoso e propiciar deleite semelhante ao permitido pelo doce de leite. Incrível.
No liquidificador, com molho madeira, a barata vira uma pasta de cor intensa, radiante, e sabor exótico. Misture com carnes ou até macarrão, em lugar do tradicional molho de tomate. Junte alho e terá uma combinação perfeita.
Sim, uma barata subiu na minha perna.
Eu a matei.
E a comi.

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Luciano Huck, o Rolex e o Nada


Então Luciano Huck teve seu relógio roubado.

E, a partir disso, enche a boca repleta de brancos dentes sobrehumanos para dizer, em artigo publicado na Folha de S.Paulo, que o "Brasil é pior que Bogotá".

Mas... tá.

E aí? E daí? Não sei, mas acredito que o mundo dá seu jeito de fazer as coisas entrarem nos eixos, entende? Não, não me refiro à tão sonhada paz social ou a nada do tipo, até mesmo porque não acredito nela e nem torço por ela, não a curto prazo, pois creio que só com ruas e palácios vermelhos as coisas irão mudar, mas isso já é outra história...
O que digo é que, queridos leitores, acho tão estranho que Luciano Huck exista... Digo, tanto ele quanto tantos outros bastante parecidos com ele. Acho interessante a idéia de que este jovem senhor perca o relógio, pois isso colabora para a distribuição de renda tão pregada por seu animado programa televisivo.
É. Exatamente aquele programa que diz, no quadro "Agora ou Nunca", que o senhor engraxate poderá ganhar uma máquina de engraxar automática 3D Surround com Actingen Plus, mas, claro, só se o coroa for capaz de atravessar três vezes a piscina nadando de olhos vendados, com uma colher na boca carregando um ovo. Claro, o ovo não pode cair. Se cair, o bobo da corte perde a chance de sua vida. Vai continuar mendigando atrás de sapato de couro. Tio Luciano tem o dinheiro ali no bolso, mas não vai dar... Afinal, quem mandou deixar o ovo cair?
Viva a justiça social televisiva.

A TV disfarçada de governo, de orgão benfeitor, é uma piada das mais sem graça, algo semelhante a um advogado recitando poesias. Falso. Sobre o tema, por favor, leiam A Punição Pela Audiência - Um Estudo do Linha Direta, de Kléber Mendonça.
É, Luciano, seu relógio já foi. Como o Brasil é injusto! Tantas famílias perdendo diariamente seus rolex...
Disse, sobre a arma apontada para sua cabeça:
“Deixaria órfã uma inocente criança. Uma jovem viúva. Uma família destroçada. Uma multidão bastante triste.”
Talvez tenha esquecido de dizer "um planeta desolado".
Fazendo minhas as palavras de Scott Weiland, que separou a existência em "o que é real" e "o que está à venda", deduzo que, já que o relógio e o carro - que já não é blindado - são comercializáveis, nenhum dos dois existe. A arma também não existe.
Assim sendo, nada ocorreu.


Principalmente porque Luciano Huck, 36 anos, apresentador de TV, também não existe.


Nada ocorreu.


Não lamentem o nada, amiguinhos.