terça-feira, 28 de agosto de 2007

Jovem Paz Branca


A busca que embeleza o rosto a leva a ser jovem como a atriz de 17 sem linhas de expressão mas também sem talento que brilha na televisão como a feliz estrela mágica da paz em forma de vendedora de cartões de crédito e pastas de dente anunciadas por jovens casais de sorrisos brancos como a pomba que é a bomba da paz que explode na testa da paz do jovem cantor rapaz e da jovem atriz feliz consigo mesma e com o mundo da paz após divórcio e a jovem promessa do vôlei se vê perdida no setpoint terminal do flagra cuspido por aquela revista que você comeu.
Como não consegue estar em paz deve estar mais velho e bem sujo e implorando por algo que não merece pois não merece e não merece e ponto final.

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Festa Bizarra

Existem pessoas cujo principal objetivo na vida é ajudar a humanidade. Otis Fodder, por exemplo, é o cara responsável pelo projeto 365 Days, que em 2003 foi capaz de - a cada dia do ano - liberar uma nebulosa pérola sonora para o universo. De músicas com crianças que mal falam até faixas que apresentam novos produtos e empresas ao mercado, passando por exeperiências caseiras, testes eletrônicos em tempos remotos e testemunhos, é tudo uma grande festa!

Abaixo, faixas que merecem sua atenção.

Children's Disco Musical Stories By Sharda - Jack and the Beanstalk (excerpt)
Espetacular. Historinha infantil em meio a funkões com direito a tecladinho vagabundo. O sotaque presente nas vozes é algo digno de uma Björk alemã. Info aqui.

Muhammad Ali - Ali's Historical Theme Song - Tudo pelos dentes. Info aqui.

Cathi Stout - Hips and Abdomen - Faixa de um disco de aeróbica cristã. Info aqui.

Assagai - Hey Jude - A música em interessante versão em algum dialeto africano. Info aqui.

Barbie and Ken (Charlotte Austin & Bill Cunningham) - Nobody Taught Me - O casal de plástico em ação. Cara, a música de 61 da Barbie é melhor do que qualquer coisa feita na música pop de plástico em décadas. Info aqui.

Myron Floren - Disco Accordion - Isso mesmo. Info aqui.

Baby Lu-Lu - Jesus Loves Me - A capa do post. A mulher faz voz de neném. Aterrorizante. Info aqui.

Bruce and Miss Nelson - Soul Transportation - Meditação induzida por fósseis eletrônicos maneiros. Info aqui.


Agora, os clássicos. Estranhos, mas bem legais:

Unknown - Carry On My Wayward Son
Fantástico. Digno de repeats eternos. Info.

The Frugal Gormets - Satan's Blood
Assustador. Se Cartman fizesse do Ween um trio... Info.

Three Guys from Hollywood - Frozen Embryos
Demais. Já esse é se o Jack White fizesse do Ween um trio. Info.

X-Cetra - Conversation/Idiotic/Wasn't There
Demo de garotas de 11 anos dirigidas por algum produtor maluco que na virada dos 80 para os 90 já antevia o que o Radiohead faria em Kid A (só agora, quatro anos depois de ouvir tais faixas e pensando na relação X-Cetra-Radiohead, vi que Idiotic e Idioteque são, né, quase homônimas! Músicas sobre violência entre namorados e decepções. Geniais, essas meninas já devem ter morrido. Info aqui.

Atari - Fly, Yar Warriors/Missile Command/Atari Theme
Pop perfeito. Três faixas bancadas pela companhia para fazer os joguinhos andarem para a frente. Fly, Yar Warriors é um reggae eletrônico com refrão absurdamente grudento e o vocoder comendo solto. A segunda, Missile Command, é tecladinho Casio com vozes ameaçadoras e guitarra quadrada. Atari Theme é uma espécie de megamix eletromilitar, seja lá o que isso for. Info aqui.

The Purple Fox - Acid Test/Patch of Grass/Git Some/Getting Busted/Requiem for Jimi
Jimi Hendrix em um universo paralelo. O tributo, comandado por Leo Miller (que, pelo que consta, parecia ser expert em "homenagens"), é composto por músicas que podem ser interpretadas claramente como "demasiadamente ao estilo do homenageado". É muito estranho. São cópias originais, entende? Engraçado pra caramba. Info aqui.

Joe Aufricht - Horny With A Chick/Moonpants Song/Kindergarten Orgasm Dance/They Wear Dresses/Mothers And Fathers/How Dare You Song
Demência extrema. Ahahaha. Info aqui.

The Amazing Adventures of Pac-Man - Slightly Crazy Lazy Day / It's My Job
Musiquinhas perfeitas. Não consigo deixar de pensar no Syd Barrett em um mundo de poucos bits. Info aqui.

A Little Girl (Marilyn Sokol) - I Want a Monster to Be My Friend
A garota não quer papo com bonecas ou bichinhos. Ela quer é ser amiga de um monstro, "especialmente se for maior que eu". Ela também pede que alguém mande um monstro para ela e tal. Duplo sentido pesado, direto da Vila Sésamo. Info aqui.

Gloria Kirkpatrick - Miss Heroin / Joe Lee Kirkpatrick - Testimony
Sinistro. Pois a mulher, numa voz de bruxa do mar, manda... So now, little man, you've grown tired of grass, lsd, acid, cocaine and hash, and someone pretending to be a true friend said: 'I'll introduce you to Miss Heroin. Well, honey, before you start fooling with me, just let me inform you of how it will be...'. E daí segue. Info aqui.

Leslie Harris and The House Of Fire - Jogging For Jesus
Correndo! Info.

I.B.M. 7090 - Music From Mathematics
De 1962. Info aqui.

Após grande hiato, em 2007 o valoroso projeto voltou. Então, quem tiver algo legal para oferecer ao mundo, por favor, escreva para esse e-mail. É isso aí.

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Proteção e Morte e Animais na Estrada


Descubra as músicas que irão lhe proteger ao longo de sua vida, e faça isso logo. Não me diga o que é proteger, e nem do que lhe guardarão, mas descubra. Existem algumas, algumas várias, várias centenas de canções capazes de impedir que você viva a tristeza, fora aquelas que evitam acidentes, assaltos, maus sonhos e tiques nervosos. Varia de pessoa para pessoa, mas, de qualquer forma, tenha seu exército à mão sempre que preciso e se salve do mundo. Aliás, o que lhe protege do quê? Achando seu som certo, avise-me.

Falando em globo cruel, The Bridge, documentário de Eric Steel sobre os suicidas que se tornam suicidas ao saltar da ponte Golden Gate, entra em circuito no próximo dia 24. Rodado em 2004, o filme registra 24 pulos que dão cabo à existência e, pelo que é dito, gera um indescritível vazio nas mentes dos espectadores. Analisar o ser humano em situações corriqueiras é interessante, porém ver seus últimos minutos pode ser mais do que isso. Situações do dia-a-dia acontencem - hum - o tempo todo, mas quantos últimos minutos você presenciou?

Inevitável: o suicídio atrai. Não minta. Aliás, a morte, em geral, é algo tão natural e inevitável que chama a atenção de qualquer um, e o tempo todo. Eu, particularmente, não me sinto tão carniceiro até mesmo por nunca ficar procurando corpos nas estradas quando o veículo que me conduz passa ao lado de um amontoado de ferro retorcido. Costumo olhar para a música que estou escutando (e que possivelmente me protege) e também para as cabeças curiosas à procura do sangue alheio. No entanto, quando, de longe, vejo algo parecido com um cachorro caído no caminho (nada contra os cachorros), apesar de torcer para que não seja um bicho morto, admito decepcionar-me ao constatar que se tratava de apenas um pedaço de pano jogado na rodovia.

Uma vez vi um cachorro transparente correndo no meio da estrada em um pequeno trecho entre Rio e Friburgo, mas isso já é uma outra história...

sábado, 18 de agosto de 2007

Se Dice Bisonte, No Buffalo


Omar Rodriguez-Lopez é um cara incansável. Mais conhecido pela guitarra que comanda a loucura latino-espacial que é o Mars Volta, o pequeno e magro homem tem uma missão: fazer música sem precedentes, e nela o jazz livre e os asteróides são a mesma coisa, por mais que você possa não acreditar. Também é interessante constatar que provas da criatividade absurda desse hiperativo porto-riquenho de 31 anos não se encontram apenas nos discos dessa banda que consegue agradar tanto a gregos nerds quanto a troianos hippies, pois além de suas pegadas estarem presentes na discografia do finado At The Drive-In e em participações especiais aqui e ali, o rapaz produz sem parar através do seu próprio selo, o Gold Standard Laboratories (GSL), que também vem fazendo o favor de lançar outros artistas novos e surpreendentes.

Em seu terceiro álbum solo, Se Dice Bisonte, No Buffalo, é possível afirmar que Omar comete sua mais bela e imprevisível aventura sonora. Contando com uma seleção de músicos que tem por base o próprio time do Mars Volta (reforçado por gente do naipe de John Frusciante e Money Mark), o álbum é cheio de diferentes climas e, por assim dizer, situações. Talvez não seja à toa que a obra seja uma espécie de acompanhamento musical, uma resposta em forma de som, ao novo filme do diretor venezuelano Jorge Hernandez Aldana, El Bufalo de la Noche, que conta a história de um esquizofrênico que comete suicídio após descobrir que a namorada o trai com seu melhor amigo. Sua estréia no México aconteceu ontem, dia 17.08.

O disco, tão atormentando quanto bonito, apresenta dez faixas, sendo que três delas contam com vocais, todos de Cedric Bixler-Zavala. Em uma, Rapid Fire Toolboth, o sax demente de Adrian Terrazas-Gonzales é o guia, enquanto que em outra – a bela faixa-título – brilha a intensa atmosfera criada com piano e guitarra. Nela, Omar pega o instrumento de trabalho e, sem exibicionismo gratuito, faz o que quer. A terceira com vocais, La Tirania De La Tradición, remete à new wave eletrônica, barulhenta e legal do Brainiac. No entanto, é nas instrumentais que Se Dice Bisonte, No Buffalo mostra a sua melhor face. Please Heat This Eventually é dançante ao extremo. Algo como o que Syd Barrett e Jimi Hendrix fariam juntos caso freqüentassem o mesmo clube de salsa. Impressionante. Boiling Death Request a Body To Rest Its Head, por sua vez, é como se a trilha de um filme policial na Miami do meio dos anos 80 passasse por um processo de mutação genética. A delicadeza de Luxury of Infancy e a sincronia melódica de Thermometer Drinking são de chorar.

Chega a ser estranho pensar que muito ainda será feito pelo cara, com o agravante de que é impossível saber o que virá – e isso é bem legal. Com a inventividade e a beleza já possuindo cadeiras cativas na obra do homem, o que vier é lucro.

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Jogo Paranóico


Chega de gols. Ninguém quer mais saber deles. Esqueça o passe em profundidade, o belo cruzamento, o toque de calcanhar, pois hoje o que vale a atenção são os lances do não-jogo. Quem diria que, um dia, o impedimento seria o ponto alto do futebol? Quem diria que eternos replays mostrariam em 750 ângulos diferentes como o jogador x estava 0,7 cm à frente do último zagueiro da equipe adversária? Em um exercício de futurologia, adianto a você que em poucos anos as distribuidoras de TV a cabo e via satélite terão em suas grades pelo menos um canal dedicado 24 horas por dia a replays de impedimentos. 24 horas, todo santo dia, de polêmicas e lançamentos que vão e que voltam e que vão e que voltam até você chegar à conclusão de que o juiz errou. Incrível!

Por que torcer para que o contra-ataque de seu time resulte em gol? Comprenda o replay sem fim que lhe impede de saber o desfecho da jogada. Oito centímetros à frente? Quatro centímentros? O jogador x estava impedido, mas não participou do lance. O y, a um centímetro atrás do beque, estava em posição legal. Parabéns!

Nos gols da rodada, ouvimos um simples e sem coração "fulano, em posição irregular, marcou o segundo".

Em um mundo ideal, um jogador não-robô entrará com um processo na justiça alegando que "a emissora tal desqualificou o tento anotado no último domingo, afirmando em rede nacional que o mesmo não deveria ter sido validado. Difamou-me. Nenhum adjetivo positivo foi associado à linda jogada executada por esse humilde atleta. Classificando meu feito como 'irregular', tal rede de televisão transformou uma fantástica obra de arte em um simples e estúpido assalto. Por esse fato, entre alguns outros, peço que sua concessão não seja renovada."

Conte os replays.

E repare na perseguição moral. O técnico que dê seu jeito e use terno e fale palavras suaves em tom agradável aos sensíveis microfones que o cercam durante toda a partida. Se assim não for, gancho. E gancho no jogador que sabe se expressar, e gancho no outro que leva bico o jogo inteiro mas que, no fim, resolve reagir. Gancho no queixo. Viva a tecnologia a serviço do telespectador! "Essas câmeras são muitos espertas, não é mesmo?" 8.000 câmeras por partida. Close no torcedor. E outro close. Escolha seu torcedor símbolo, forme sua opinião quanto ao árbitro humano ladrão, odeie o agressor secreto e o técnico louco. Esqueça o gol, sem graça que é.


A não ser que a bola passe por pouco a linha da baliza...
Entrou ou não entrou? Veja no replay: entrou? Não entrou? Tem que passar inteira. Entrou? Não? É um lance difícil... Entrou? Hein?



A escola é feita:

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Rotina

Oswaldo Freitas, cinqüenta e dois anos, cabelos brancos em uma cabeça já não tão repleta de cabelos, tem uma rotina e se orgulha dela. Acordar às seis todo dia é sua vida. Ver se o canário dormiu bem, dar aquela olhada pela janela e ligar o som para ouvir sua música clássica. Sol escaldante, árvores quase derretendo, mas agradecido sempre está este senhor pela oportunidade de ter saúde suficiente para ainda ser útil à sociedade. Mais um dia se inicia.

Roupa é capítulo fundamental no seu dia-a-dia. Sempre lembra do pai, que sempre dizia que “a vestimenta garante respeito ao homem decente”. Checar e garantir o brilho dos sapatos, constatar a ausência de máculas em suas meias escuras, conferir se o terno está impecável, se o cinto preto é a melhor escolha, se o chapéu é o melhor que possui em sua vasta coleção e se a gravata é aquela que nunca havia usado. Tudo perfeito. Um pós-barba para completar.

Verificar a pasta. De couro. Documentos, anotações, agenda de telefones e uma miniatura de três centímetros em plástico de Nossa Senhora de Fátima. Canetas e lenço de pano. Celular carregado e devidamente guardado. Alguma ligação perdida durante a madrugada? Não, hoje nenhuma. Esquecendo de algo? Não. Seu sistema de cumprimento de tarefas habituais é praticamente infalível. A rua lhe aguarda.

Porta fechada, chave girada, olá ao senhor da banca de jornal. “Flamengo vence o Goiás”. Oswaldo relembra o gol de Obina visto ontem no restaurante da praça mas sabe que o time podia ter perdido. “O técnico expôs a zaga”, ele pensa. Café na padaria, alô aos taxistas. Ônibus. Na viagem até o centro muito pode ser pensado, então Oswaldo contabiliza o tempo que gasta diariamente com esse deslocamento até o coração cinza da cidade. Relógio pesado de tão bonito marca as horas que ele precisa para não se preocupar com um possível atraso. Dá tempo e sobra. Seu sistema de cumprimento de tarefas é, na verdade, infalível, e permite uma viagem tranqüila, sem qualquer tipo de luta contra o ponteiro. Pouco trânsito. O sol segue intenso. “Filtro solar na cabeça só em 2060”, calcula. “Como esses prédios antigos são grandes”.

Pé na rua, na imensidão do centro da cidade. Engarrafamento de pessoas. Compram jóias, vendem moças, chocolates e candidaturas a deputado estadual. Oswaldo, íntegro e já insensível a essas práticas, ignora as investidas e aperta o passo. Dribla o catador de papelão e seu carro fantástico. Se o relógio marca oito e doze, a temperatura é de trinta e nove graus. Madrugadas quentes foram essas duas últimas, com água fresca para o canário a cada três horas.

Destino alcançado. Saltando do ônibus em um largo repleto de gente que caminha em direções opostas. Todas as direções são opostas. Gente engravatada que surge do chão. Novos cortes de cabelo, novas revistas, novas combinações de sucos, novas formas de andar de metrô, policiais femininas, caras de Maria Fernanda Cândido e Cléo Pires pintadas por artistas cegos. “Aquele menino tem cara de operador de xerox”. Apressadas moças em terninhos falando em celulares palavras de arame aos namorados de óculos escuros sentados em salas geladas ouvindo música adulta do outro lado do Rio. Oswaldo olha o sol e confirma para si os quarenta e quatro graus daquela tarde. Afrouxe a gravata, senhor, e resmungue algo sobre a temperatura. Um carro de som diz para que se vote no Wilson do Escritório. Prédios altos demais, mesmo antigos. Como assim? Por dentro, madeira e executivos com salas vizinhas às das prostitutas. Pessoas cinza. Saxofone. Caixas eletrônicos agarram cabeças. A mulher grávida corta o braço e seu filho sai por seu pulso. O rasgado terno marrom de sol e a calça bege puída de Oswaldo não deixam muitas dúvidas, tampouco os sapatos abertos nas solas e o chapéu de camurça verde escuro manchado de água sanitária. “Será que o canário bebeu a água?”

Vagando com sua pasta repleta de lixo pelas ruas do centro da cidade, Oswaldo adora os dias de sol.

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Autocriação


Juan Carlos Ramirez Abadía é o nome do traficante colombiano preso ontem em um condomínio na Grande São Paulo. Pelo que consta, era o segundo na lista dos criminosos mais procurados pelo Departamento de Estado norte-americano (a recompensa por informações que levassem a ele era de US$ 5 milhões), ficando atrás apenas de Osama Bin Laden (recompensa de US$ 27 milhões). Deixando de lado os julgamentos morais e as palavras de revolta branca, pois nada disso faz sentido, e deixando também de lado a conversa que enxerga apenas os dólares, pesos argentinos e relógios encontrados na casa de Abadía, vemos o rosto do homem. Mas qual homem?
Buscando poder usufruir do dinheiro acumulado ao longo dos anos e seguir tocando adiante seus negócios, Juan deixou de ser Juan, passando a exibir sobre o crânio uma máscara de carne que era a sua receita de liberdade. Plásticas apagaram do mundo o garoto que nasceu em algum lugar da modesta Palmira e que escreveu seu nome na recente história colombiana com toneladas de cocaína e diversos assassinatos, como os dos 35 amigos e familiares do traficante Víctor Patiño Fómeque, que, preso pelo governo estadunidense, teria delatado Abadía às autoridades locais.
Para viver como o rei que sempre sonhou ser, o dono do Cartel Norte Del Valle - detentor de uma fortuna avaliada em US$ 2 bilhões - precisou chegar ao inimaginável extremo de abrir mão de sua própria imagem, tornando-se um ser estéril, autocriado, um ciborgue do desespero, uma Angela Bismarchi em fuga. Talvez tenha aproveitado a necessidade para estampar no rosto o queixo e o nariz que sempre quis ter, bem como os traços angulares que costumava admirar em outras pessoas.
Juan, possuidor de uma vasta coleção de obras de arte, levará para sempre consigo as marcas do tempo em que o mundo era possível, e era seu.

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Não acredito em Beatles


Exatamente: não acredito em Beatles. Acho que a banda é, na verdade, uma lenda desenvolvida por uma seita de compositores e músicos populares espalhados pelo mundo e mantida intacta por quase cinqüenta anos graças a muito trabalho de desinformação. Honestamente, digam-me se é possível que apenas quatro pessoas magras, perecíveis, brancas, inglesas, tenha sido capazes de criar um turbilhão sonoro/criativo de tamanha magnitude. Duvido. Homens não conseguem ser tão simples e tão complexos ao mesmo tempo, e, claro, não conseguem criar sons que não apenas são eternos, mas que não envelhecem nem um centímetro vélhico por ano (por favor, me digam qual a unidade de envelhecimento vigente hoje em dia).

Se alguém insiste que a história da existência dos caras é real, alegando que seria quase impossível manter um complô na ativa por meio século (não sabem nada...), aí já apresento outro argumento, que é o de achar muito estranho que Deus tenha permitido que os quatro pequenos monstros se encontrassem na mesma vida, época e cidade. Acredito que se os quatro apenas se vissem seria o suficiente para que uma onda de surtos psicóticos atingisse as redondezas e que senhoras de meia idade fossem contempladas por combustões espontâneas, entre outras tragédias menores que certamente machucariam centenas de nações.

Pois hoje escutei, após um bom tempo, ao perfeito Magical Mystery Tour, que por alguns anos foi - entre os álbuns da banda - o meu favorito. Trilha sonora de filme de mesmo nome, a obra é algo como uma coleção de lindos e bizarros ultrahits. Tudo muito torto e muito pop. Demais mesmo. O filme ainda não vi, mas preciso, e logo. Você também precisa, mas talvez não saiba disso. Acho que a primeira vez que ouvi o LP foi em 98, e é incrível como aquela atmosfera maluca e quente e feliz permanece a mesma até agora, e acho que continuará assim para sempre. Em novembro, Magical Mystery Tour completará quarenta anos de idade, sendo muito mais moderno do que tudo que foi lançado nos últimos quarenta dias.

Por favor, Blue Jay Way:

domingo, 5 de agosto de 2007

Salada de Frango



Pois ela quis um carro novo, com portas e pneus e espelhos e coisas do tipo. Ela quis se sentir um pouco maior, um pouco mais rápida, um pouco mais séria e certamente mais bonita. Um carro, óculos escuros e música baiana moderna nas caixas de som. A grande onda da maturidade precoce não questiona, apenas buzina. As amigas combinam a ida ao churrasco onde os óculos escuros repousam nas bolsas e bolsos junto às chaves dos carros. Felizes pelo dia de sol e pelas calças novas, percebem como viver é lindo. Obrigado. Obrigado.

Eis que Fred, obviamente bêbado, cai de uma altura de 8 metros, e com a coluna no chão. Uma massa pastosa multicolorida vaza de seu abdômen e de suas costas. Priscila é a primeira a provar o sabor do que entende por alma. "Salada de frango", diz a loura. Fred é aberto do pescoço ao umbigo. Seu recheio, que atrai sorrisos ricos e curiosas moscas, transforma simples pães em deliciosos sanduíches vivos, que podem ou não ser levados à churrasqueira.

Experimente!

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

O Paralelo Perdido

Estava hoje tentando traçar um paralelo entre crescimento e conquista. O primeiro passo foi retirar da idéia de conquista tanto a ultramasculinidade quanto os próprios navegadores - por exemplo - portugueses. Don Juan e Cabral conquistaram, mas não sei se cresceram a partir destas vitórias, a não ser que estejamos falando de crescimento do ego e da lista de fãs.

Talvez conquistar seja um bom sinônimo para alcançar provisoriamente, pois nenhuma conquista é eterna. Nada é fixo, nem o nada, apesar da afirmação de que "nada é fixo". Se a conquista não perdura e o crescimento deriva da conquista, da subida a novos degraus, do alcance ao que antes era tido como inatingível, crescer pode ser considerado um caminho igualmente reversível.

Curioso pensar que a maturidade física, o avanço profissional e o desenvolvimento do espírito podem ser apenas uma pequena parte de uma estrada retrátil. O copo de plástico que vira um disco colorido.

O atleta perde as pernas, o diretor perde seu emprego, o monge se apaixona pela menina.

Crescer e conquistar. Não há paralelo, até mesmo porque crescer envolve a dor que a conquista se recusa a aceitar. Sim, há paralelo, mas não que eu consiga compreender hoje. Ou agora. Não há paralelo, pois a seta do crescimento aponta para cima, e a da conquista, para dentro.

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Começou (aliste-se)!


Saindo da reserva florestal dos pensamentos congelados, surge este blog.

Nele, Marcio Teixeira de Mello Jr. (no caso, eu) fará colocações interessantes que, às vezes, serão interpretadas como descabidas, mas que, no final das contas, provavelmente farão um certo bem à sua pessoa. Digo, um bem a você, e não a ele, caso não tenha ficado claro. Se bem que também será positivo para mim...
Acredite. É quase lógico!

Fiquem por aqui. Prometo fazer deste um bom lugar.
Agora, com vocês, nossos patrocinadores.

Um abraço!