quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

[Futebolisticamente falando] Quando eu era pequeno...

- achava que São Paulo e Atlético-MG tinham os jogadores mais fortes fisicamente de todo o Brasil.

- e quando esses times se enfrentavam, vinha à minha cabeça a frase "duelo de titãs".

- achava que o futebol da União Soviética era simplesmente sensacional e imbatível.

- achava que, quando meu time fazia 3 gols num jogo, era uma ultraultragoleada.

- achava o sem-pulo uma jogada genial.

- via vários gols de cabeça de fora da área.

- via várias redes furarem após bombas de jogadores que às vezes nem chutavam tão forte.

- achava que o Bahia tinha um dos uniformes mais bonitos da primeira divisão.

- de tão emocionado que ficava ao chegar na arquibancada do Maracanã, achava que, em jogos noturnos, o gramado era refletido no céu.

É... O céu ficava verde. Pelo menos para mim.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Os Discos da Década

Tentei me imaginar ouvindo os álbuns pela primeira vez e o impacto causado caso eu já não tivesse escutado, por exemplo, os lançados em 2001 umas 700 vezes.

Me limitei a colocar um disco por artista.

É um trabalho é tão difícil que chega a ser doloroso. Tentei a todo custo cortar um dos 26 para chegar ao redondo número 25, mas não consegui.

Taí o ranking:

10
Kid Cudi - A Kid Named Cudi

Gostei mais da mixtape do que do álbum. Man On The Moon, o disco, não tem os sonzinhos emendados e várias músicas fodonas, como 50 Ways To Make a Record e The Prayer. Muitas bases que entraram em A Kid Named Cudi (do N.E.R.D., Outkast, Gnarls Barkley...) não devem ter sido liberadas.

Ween - Quebec

A banda mais demente do mundo. Linda. Quebec é cheio de bons momentos, mas em especial The Argus, a penúltima faixa, que entraria fácil numa compilação que eu estaria condenado a escutar para sempre em uma ilha deserta.

9
Omar A. Rodriguez Lopez - Xenophanes

Depois de lançar 14 mil discos solo do qual se safava apenas um, o cara comete o lindo Xenophanes. Repeat várias vezes e surpresa com a voz do Omar, que agora também canta. Aliás, ele canta igual ao Cedric, seu parceiro de Mars Volta. Não sei quem imita quem.

N.E.R.D. - In Search Of

Pharrell é o cara. No disco de estréia do N.E.R.D. há muito mais mexeção funk e soul de cadeiras do que no bem roqueiro, e um pouco menos foda, Fly Or Die. Mas também há momentos pacíficos no som, mas bem atormentados nas letras. O último álbum da banda, Seeing Sounds, também é demais, e cai dentro da porradaria jungle/drum n' bass sem medo nenhum. Gosto pra caralho.

8
Chromeo - Fancy Footwork

Para dançar rindo. Synth Funk fantástico!!! Até traços de Miami Bass podem ser encontrados na urina do disco.

Monster Magnet - 4-Way Diablo

O canhoto está na estrada. Esse álbum e mais o Powertrip formam uma dupla arrebatadora. Peso e canção na medida exata. Refrões inesquecíveis. Cérebro dentro de um jarro, pênis num saco plástico. Drogas. Satan wins.

7
Sebastién Tellier - Sexuality

Sexo e sintetizadores em francês. Que bonito é!

The White Stripes - Elephant

Valor histórico inquestionável. Na época do lançamento eu traçava paralelos entre o álbum e o Nevermind, tanto pela força das músicas quanto pela facilidade que tive para tirar o disco todo no violão. Hoje não escuto. Não consigo mais. Quem sabe em 2013...

6
The Hoosiers - The Trick To Life

Disco mais injustiçado da década. Todas as músicas são redondaças e o vocalista é foda pra cacete. Na moral, ouçam.

The Rapture - Pieces Of People That We Love

Dançante até a medula. Mas, porra, o baixista, logo ele, que canta a melhor do álbum, Whoo! Alright, Yeah... Uh Huh, e que se destaca no uso do instrumento, saiu da banda. Lamentável.

5
Cidadão Instigado - Uhuuu!

Rádio AM na praia.

Dave Navarro - Trust No One

Um disco que, assim como A Tábua de Esmeralda, chama vento. Incrível. Dez faixas negro-cinzentas que se encaixam de maneira impressionante. Uma pena o cara não ter lançado mais nada.

Kanye West - 808s & Heartbreak

Me remete a um clima semelhante ao do To Record Only Water For Ten Days. É a bateria eletrônica, a tal 808, provavelmente. Kanye West canta no disco todo, mas, independente dos autotunes da vida (estúdio é pra isso mesmo, né?), são muitas as faixas fodalhonas. Love Lockdown é, certamente, uma das músicas que eu mais gosto e já escutei nessa vida.

Klaxons - Myths Of The Near Future

Disco feliz e escuro. Na Atlântida e na Interzona ao mesmo tempo. Mas quem me disse que a Atlântida era feliz?

4
Ataxia - Automatic Writing

Hipnose.

Elliott Smith - From a Basement on the Hill

O disco póstumo do mestre tá longe de ser seu melhor trabalho, mas apresenta o suficiente para ser um dos melhores da década. Elliott Smith era um beatle que nasceu fora de época. Melodias como as do cara demorarão a surgir nesse planeta.

Gnarls Barkley - St. Elsewhere

Cee-Lo Green é rapper mas canta pra caralho! Danger Mouse é um dos produtores mais sagazes da paróquia. Batidas absurdas. Sons eletrônicos soando ultraorgânicos para nossa alegria, povo adepto dos agrotóxicos. Não podia dar em merda.

Hurtmold - Hurtmold

Nunca um disco feito no Brasil me falou tanto sem pronunciar uma única palavra. Nuances, refrões grudentos, quebradas. Maurício Takara é o melhor baterista do mundo.

3
Outkast - Stankonia

Vendo o clipe de Bombs Over Baghdad, quase caí da cadeira. É, de fato, a música da década. O disco é uma interminável sequência de sons arrebatadores. O rap que sabe descambar para o jungle e salva o funk. Faz total sentido. Ok... Se alguém se lembrar que Stankonia é de 2000, então coloco o não menos brilhante Speakerboxxx/The Love Below nessa terceira posição.

Stone Temple Pilots - Shangri-La Dee Da

É o Californication do STP. Melodias pop perfeitas, instrospecção, Hollywood. Viva Scott Weiland.

The Mars Volta - De-Loused In The Comatorium

Quando escutei In The Court Of The Crimson King, achei que tinha visto até onde o progresso espacial podia nos levar. Com o De-Loused, do Mars Volta, entendi que as rotas interestrelares são bem mais variadas do que eu podia imaginar. Guitarras que flutuam e rasgam ao mesmo tempo conversam com uma latinidade que foge dos clichês cucarachos. Lindo.

2
Mew - And The Glass Handed Kites

É o melhor disco que o Yes nunca gravou.

Queens Of The Stone Age - Songs For The Deaf

Nick Oliveri faz falta. Era a agressividade e porra louquice que complementava o jeito Homme de fazer música. E, porra, uma banda com mais de um vocalista (ainda tem o Mark Lanegan) é sempre mais legal, né? Vide Beatles! Além da sempre comentada atuação triturante do Dave Grohl, destaque para Dean Ween no violão da sensacional Mosquito Song.

Red Hot Chili Peppers - By The Way

John Frusciante entra na cabine, amordaça o piloto e assume o comando. Harmonias vocais fodalhonas em todas as músicas. A banda se reinventa. I Could Die For You é a canção mais subestimada da história dos caras.

Silverchair - Diorama

Daniel Johns é um Brian Wilson levemente mais saudável.

1
John Frusciante - O Disco da Internet

O álbum é uma caixinha de música com 21 faixas com média de, sei lá, 1 minuto e 30 segundos de duração. Lindo e frágil do início ao fim. Perfeito.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Realidade alternativa em vermelho e branco


Se o Bangu tivesse vencido o Campeonato Brasileiro de 85, teria vendido o Marinho, o Cláudio Adão e o Paulinho Criciúma para a Itália e faturado centos milhões de dólares que fariam o clube criar o que se tornaria o mais moderno CT da América do Sul.

O título e o dinheiro das vendas seriam um incentivo e tanto para que Castor de Andrade transformasse o clube, em pouco tempo, na terceira potência do Rio de Janeiro. Inclusive, a Raspadinha do Bangu, com comercial de TV de grande sucesso estrelado pelo Costinha, seria uma iniciativa pioneira no Brasil.

O clube seria abraçado pelo subúrbio carioca de forma nunca antes vista. Torcedores meia boca de Flamengo, Vasco, Bota e Flu, moradores de Bangu, teriam um novo time de coração. Comerciantes locais não iriam pensar duas vezes antes de investir consideravelmente no clube. Moça Bonita teria sua capacidade ampliada para 60.000 lugares em três anos.

Em 86, Marinho, por mais que já estivesse na Europa, seria "o Bangu na Copa". Telê teria que dar o braço a torcer, tamanho seria o clamor popular em relação ao jogador. As ruas de Bangu seriam palco de centenas de pinturas que celebrariam a comunhão entre Brasil e o clube na competição em terras mexicanas.

Na disputa de pênaltis contra a França, Marinho convenceria Telê e Sócrates de que ele deveria cobrar o tiro direto no lugar do barbudo. E a Seleção avançaria à próxima fase.

Na final, nem preciso dizer quem - cheio de moral - faria o gol do título, certo?

Com o subúrbio carioca tendo um novo e eterno ídolo, muitos na cidade defenderiam que o Engenhão se chamasse Estádio Olímpico Mário José dos Reis Emiliano. Apesar da vitória dos puxa-sacos do Havelange, muitos insistiriam em se referir ao estádio como "Marinhão".

Hoje, o alvirubro, tricampeão brasileiro, estaria lutando contra Flu, Bota e Atlético-PR para não cair para a série B do campeonato nacional. Mas se salvaria. Afinal, tradição é tradição.

Já o Coritiba estaria festejando a volta à primeira divisão do Campeonato Paranaense.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Helicópteros cadentes: simplificando o bagulho

As pessoas entendem o termo "tráfico de drogas" como sinônimo de "banditismo". Só isso. Não analisam as palavras separadamente e o que elas juntas significam...

Se as drogas continuam proibidas, e o ser humano continua seguindo seus instintos e adquirindo vícios, a venda ilegal seguirá para sempre. Simples.

Não discuto helicópteros, caveirões, calibres e nem salário de policial. Discuto a sociedade negando que o homem é viciado por natureza.

Isso de negar que temos o entorpecimento nos gens e combater o fato é algo como a igreja lutar contra os pênis dos padres.

Mas é aquilo: não legalizam as drogas porque tirariam das comunidades o real pacificador delas, que é o puro e simples comércio.

Para os governantes, as drogas são o apito da panela de pressão social: é barulhento, mas necessário. Deixam "eles lá, nós cá". Não enxergam que, na verdade, não existe isso de "nós" ou "eles". Somos, ou éramos para ser, verdadeiramente iguais.

Mas se o apito entope e as drogas são legalizadas, as "firmas" quebram, pois some o produto. Explode panela, fogão e cozinha.

Diversificação comercial talvez signifique roubo a bancos ou sequestros em prédios de luxo. Tudo que nenhum prefeito ou governador quer...

Resumindo: combate ao tráfico de drogas é enxugar gelo. Circo. Palhaçada. Não acabam com a parada porque não podem, porque precisam dela.

Então, garotada, não chorem por helicópteros abatidos. O helicóptero, do alto de sua inutilidade, não choraria por ninguém.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Ninguém é maior que ninguém

Sobre o episódio de hoje em Vila Isabel, ok: o policial cumpriu seu papel, a galerinha aplaudiu e tal... Só continuo não entendendo essa de uma vida valer mais do que a outra.

Entendo os argumentos de todo mundo, e até as posições mais radicais, porque há motivos para se posicionar de forma radical, mas, cara, nenhuma vida vale mais do que a outra.

Quem é quem para escolher quem deve viver e quem deve morrer? Se o que chamam de "bandido" é o cara acusado de não valorizar a vida do outro e matar sem piedade, o governo, ao matá-lo, também sem piedade (levar corpo para hospital não é sinal de piedade) não se iguala a ele? Que porra de mundo é esse em que é certo que um morra e errado que outro morra? Existem balas boas e balas más? Armas boas e armas más? Fala sério...

Institucionalização da barbárie. E geral aplaude. Lamentável...

Claro que a gente vai para o campo da teoria, mas os policiais tinham que ser melhor preparados para vencer os meliantes sem ter que dar uma de "corte marcial instantânea", como fazem - e agradam - atualmente.

Ganhar na conversa, tentar entrar na cabeça do cara sem ser com um projétil. Jogar o jogo dele e, quando o cara baixar a guarda, 10 policiais já estarão em cima, imobilizando o maluco.

O jeito atual é fácil. Atira, mata o cara, às vezes mata o refém também... E vida que segue. Cara, é bem possível que tiros de alta precisão possam ser disparados com armas não letais... Mas a cultura da morte já faz parte do nosso dia a dia. A morte de um cara desses é motivo de festa aqui na comunidade. Ninguém pensa que o maluco que, sim, tava na vida errada, fazendo merda, talvez tivesse mãe, pai, filho, e talvez tivesse jeito.

Vê lá o Marcelo Yuka... Tentou ajudar a mulher que estava sendo assaltada e levou tiros que fizeram o cara perder os movimentos das pernas para sempre. Ele poderia estar aí, participando de movimentos pró-pena de morte e tal... Mas não: o cara mostra e explica filmes para presidiários - caras que poderiam ser aqueles que fuzilaram seu carro.

E aí, pessoas pró-bala, pró-morte: o que dizer sobre um cara como o Yuka? É otário? Não, irmandade: é mestre.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Para voar

Prenda a respiração
Dê um salto
Rapidamente, entrelace suas pernas
Desentrelace em seguida
Faça rápidos movimentos com os braços
Como se estivesse nadando
Até se estabilizar

Simples

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Senhor Perfeito

- Olá, Senhor Perfeito. Resolveu, então, voltar?

- Pois é... Mas é algo rápido. Vim para ver como as coisas estão.

- Pois então, Senhor Perfeito, tudo bem, como pode ver. É bem possível que queira checar absolutamente tudo, já que "tudo bem" nunca lhe é suficiente...

- Você bem me conhece, né?

- Sim... De outros carnavais. Se bem que não lembro de ser fã de carnavais.

- Você me conhece. Carnaval não é comigo. Na verdade, Carnaval é meu amigo, mas ele é por demais inconsequente, estúpido mesmo. Cansativo, diria.

- Então, Senhor Perfeito... Andei pensando e, ach... acho que o Sr. exagera em suas críticas... Não poderia levar tudo de um jeito mais tranquilo? Julgue um pouco menos e dance um pouco mais.

- Rapaz, você não sabe de nada. Mudei há tempos. Podem não perceber, mas até já sou mais humano! Não busco mais luz, elevação nenhuma. "Dance um pouco mais..." Para você, tudo é piada, não? Se critico, não percebo. Sou assim. Sou perfeito, você sabe. "O" Perfeito.

- Acho é que seu nome lhe subiu à cabeça. Perfeito é só um nome.

- Você sabe que não. Perfeita é minha essência.

- Mas seus sovacos fedem. Estou sentindo agora.

- Rapaz, você acha que tudo é engraçado?

- Perfeito, estou cansado de gargalhar, mas também não quero sucumbir diante de suas idéias ruins. Prefiro lavar toda a louça que me espera na cozinha do que perder mais um segundo com você.

- Hahahahahahaha!!!!

- Do que ri, seu escroto?

- É que me lembrei de uma coisa que tinha que te contar há tempos: já percebeu como lava bem sua louça?

- Lavo bem? E qual o problema nisso? Ligo o rádio, me curvo, fodo a coluna, lavo e ponto. E pronto.

- Eu diria que lava bem demais... Várias vezes até chegar ao ponto ideal de limpeza, né? Diria, até, que lava louça p-e-r-f-e-i-t-a-m-e-n-t-e.

- Ok, Senhor Perfeito. Entendo o que quer dizer. Ou acho que entendo. Quando me fará uma nova visita?

- Sei lá. Em alguns anos, talvez. Pois, no final de nossas conversas, a gente sempre se entende, não é?

- Sim, sim... Mas esses encontros nunca são simples. Dói um pouco.

- E o que na vida é simples, meu rapaz? Você está indo bem...

- Eu sei, eu sei. Obrigado por me lembrar disso e por não me abandonar.

- Obrigado você, por nunca esquecer de mim, por mais duro que, às vezes, eu pareça ser. Sabe que te amo.

Vidavisão

Deixando o pessoal
Sem deixar ninguém no chão
Viver o feliz coletivo comum
Ônibus bonito fora da contramão

Em cada curva, uma ameaça
Mas ameaça sabe ser ilusão
Esquece a merda e a perfeita desgraça
Encontro a paz nesse nosso colchão

Talvez o homem se desfaça com o tempo
E os olhos do mundo se mexam sempre em vão
Fechando o rosto e cheirando o vento
Como um animal em sua vidavisão

No sangue de cada um há uma história a ser contada
Correntes de orgulho e amor moram no fundo da gente
E tantas pessoas tão bem, tão leves, se encontram
Sorrindo com os infinitos passado, futuro e presente

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Esponja

Às vezes acho que sou o cara que mais "percebe coisas" no mundo.

E isso é a pior coisa que alguém pode achar!!!

De A a Z: pã!!!

Que tal dormir?
Vamos dormir.
Que tal dormir?
Já sei dormir.
Que tal dormir?
Já sei sorrir.
Que tal dormir?
Já vou dormir e imaginar e então sonhar e planejar e então matar o que fará eu nem pensar e caminhar num só sonhar e vou voar e só voar e vou voar e sei voar vamos voar somos o céu!

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Creme

Só tenho que rezar
Pra esse creme ser infinito
Senão vou descascar
Até o rabo fazer bico

Nesse fragmentar
O poro sangra, não é bonito
Então a cabeça cai
Lenta que não cabe um grito

Só tenho que rezar
Para o creme ser infinito
Ou terei que gastar
Oitenta contos esquisitos

Ele evita sonhos maus
Pesadelos não saem da testa
Então, pescando idéias tristes
Vivo em eterna festa

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Vida

por Marcio Teixeira de Mello

Desapego
Diante de mim pode ser um mau exemplo
O nome é outro
Mas o resultado final claro que é o mesmo

E o que é a vida
Além de impulsos e curtos circuitos desenfreados?
Viagem de ida
Retorno garantido em cem carros parados

Sangue circula
Levando o ar para algumas voltas desse lado
Mas sem motivos
Pergunte ao bicho a razão de estar acordado

Além do prazer
Não poderá haver absolutamante nada
Te tira o gozo
E o que sobra é um esqueleto na estrada

Somos o animal
Mas brincaremos de entender e organizar
Ao defender a vida
Defenderemos o que nunca existirá

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Se Carros Não Fizessem Vento

Marcio Teixeira de Mello

Depois desses olhares estão as crianças
Deixando cada coisa em seu lugar
Se morrem as vontades, matam quem se cansa
O bom é que a história irá parar

Se carros não fizessem vento
O fogo não iria se espalhar
Se você conseguisse aumento
O fogo não iria se espalhar

E corre
E pede
Esnobe
Se entregue

O peito que segura e que mantém vivo
Certamente irá te atrapalhar
Sentado ao lado do rei que sai da barriga
Mas ele não tem nada a te ensinar

E corre
E pede
Esnobe
Se entregue

Pois quem voa, a vida ensina
Viva na bolha, dance na mina
Sei que te interessa comprar a escada da moral
Suba e caia
Tão normal

E corre
E pede
Esnobe
Se entregue

Se move
Repele
Escorre
E negue

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Frutas e folhas

O cheiro é de frutas se decompondo nas ruas
Amêndoas, tamarindo e paredes cruas
Folhas também se desfazem
E o vento provoca miragens
Bandeiras em postes tremulam
Tremendo, pessoas simulam
Eternidades que não perduram

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Merecimento


"Você merece o melhor" é uma boa coisa de se ler. A qualquer instante.

Mesmo que surja discretamente, travestida de slogan em uma sacola de compras escondida numa foto sua tirada em 1980.

domingo, 9 de agosto de 2009

Fora do baile de máscaras

Um hemograma me disse que não fui convidado para a festa do porco. Que bom. Mas que o mal estar é de matar, ah, ele é. E na hora de tirar sangue, pensei que seria uma merda morrer. Definitivamente, não é uma boa hora para isso. Até pensei em congelar meu sêmen ao chegar em casa. Me perguntei se nossa geladeira daria conta do recado.

E já na minha rua, após horas entre exames e esperas, tive que fugir de morcegos. O remédio injetado seria tão forte assim? Não... O Grajaú é assim mesmo.

Mas que me senti no início de "Medo e Delírio", ah, eu me senti.


quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Gnarls Barkley - Who's Gonna Save My Soul

Cacete...

Corpo e/versus alma

Corpo e alma juntos
Mas não era pra ser assim
Era para um descansar e o outro partir
E de manhã chamarem por mim

Pois um não quer saber de parar
E o outro não sabe como voltar
Depois de algum tempo, um certo encontro
Mas tudo custa a funcionar

Então os dois me chamam de madrugada
E pedem um tempo pra conversar
E eu, bem no meio, como idiota
Tento entender o meu lugar

O corpo, cansado, levanta
A alma, voando, quer janta
E eu, só olhando o buraco que fica
Procuro fazer-me de tampa

Mas acho que vamos seguindo
Cedendo um ao outro e sorrindo

- Corpo, quer pausa? Descanse.
- Alma, quer casa? Então dance.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Mau céu

Em algum momento do dia
Vi crianças felizes na rua
Pensei que há tempos não via
Nenhuma delas
Com sérios problemas de saúde
Daqueles tipos visualmente identificáveis
E até pensei que Deus poderia estar andando mais bonzinho
Esquecendo possíveis karmas
E se concentrando no aqui e no agora

Foi pensar isso
Descer alguns andares
Para ver uma mãe com um filho de um ano no colo
E a situação da criança
Queimada
Me fez reconsiderar algumas impressões
E ficar muito puto com o céu

terça-feira, 28 de julho de 2009

Ferrado como um vampiro à moda antiga


Conseguiram "nerdilizar" os vampiros. Ou melhor, "emotizar" e "nerdilizar". Eu, pequeno, com medo do Christopher Lee, é uma imagem surreal hoje em dia. Tudo porque pegaram o carinha da Transilvânia e o humanizaram, o ridicularizaram, transformando a besta em uma espécie de ursinho de pelúcia com dois dentes afiados mas com muito amor atormentado no coração.

E isso é uma verdadeira receita de sucesso, algo prontamente consumido. Todos lêem, todos vêem. E até gente estranha como Thom Yorke já ingressou na parada, colocando músicas do Radiohead na trilha do tal "Crepúsculo" e de sua sequência. Estranho. É como ceder sua imagem para um anúncio de algum produto tão jovem e bobo que nem consigo imaginar. Talvez um... filme mesmo. Com os Jonas Brothers, por exemplo.

E pergunto se os Jonas Brothers não são vampiros. O NX Zero não seria uma banda de vampiros, que sugam sangue jovem e oferecem em troca uma vida sem vida? Ah, sim, é isso o que eles fazem.

Cacete. Transformaram bestas sinistras em um estúpido artigo jovem. Se apoderaram do charme e da melancolia desses personagens e agora vendem requeijão. Claro... Frankenstein não venderia requeijão. No máximo uns piercings em forma de parafuso.

Penso nisso tudo por ultimamente ter me sentido meio vampiro. Mas no sentido romântico da coisa, com a imagem romântica à mente. E não me sinto assim por causa de uma possível sede de sangue ou eventuais empalações a la Vlad Dracula. Tenho é trocado o dia pela noite, e saindo de casa quando o sol já pegou seu ônibus de volta pra casa. E isso é estranho. E ruim. Acho que estou com saudades de não me sentir como um ser que sai à rua, quando sai, apenas quando a vida local está cansada, as portas fechadas, quando baratas se animam a espalhar seu cheiro pelas encruzilhadas embueiradas.

E o dia de amanhã provavelmente não será diferente. São 6h02. Ainda não durmo, mas minha imagem ainda aparece no espelho. Acho eu. Alguns quilos a menos nas últimas semanas, já que horários estranhos comem refeições, não deixando algumas delas para mim.

Ainda apareço no espelho, se bem que vampiros modernos devem aparecer no espelho, comer deliciosas refeições carregadas no alho etc. São modernos, ora. Se bem que gente muito moderna deve ser fresca o suficiente para odiar alho. Idiotas. Alho é bom pra cacete.

Vampiros modernos devem morrer apenas quando acaba o lápis de olho ou a bateria do celular.

sábado, 25 de julho de 2009

Zé Carlos: ídolos nunca morrem


Grande Zé Carlos,

Escrevo-lhe para lhe desejar força e paz. Com isso em mente, tudo fica mais fácil. Originalmente, essa mensagem foi enviada a você em forma de e-mail, quando ainda estava no hospital. Mas, agora, em um novo momento, já sem dor e sofrimento, sinto que é ainda mais necessário transmiti-la a você.

Hoje tenho 29 anos, mas em 87, aos 7, descobri o maravilhoso mundo do futebol. E logo a primeira esquadra rubro-negra que conheci e amei foi a de 87, com você no gol. E por mais que tivéssemos a genialidade de Zico e o talento rebelde do Renato no nosso time, o presente de dia das crianças que pedi para minha mãe não podia ser outro: um uniforme completo de goleiro. Por causa de você.

Quando agarrava, chamava a mim mesmo de estranhos nomes, como Zé Teixeira ou Marcio Carlos, e imaginava que era você quem, por meio de mim, fazia fantásticas defesas de chutes nem tão fantásticos do meu pequeno irmão.

Ali, na garagem vazia de nossa casa, eu era, inquestionavelmente, o Zé Carlos!

Posso dizer com toda a certeza que você foi o meu primeiro grande herói. E até hoje, quando penso em Flamengo e penso em um goleiro, o nome e a imagem de José Carlos da Costa Araújo me vêm à mente imediatamente.

Um grande abraço, Zé. Paz.

Desse seu amigo e fã incondicional,

Marcio Teixeira de Mello Jr.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Insônia

Não consigo dormir
Na dor de não dormir
Pavor de não dormir
Querendo só dormir

Não acho a posição
Nem a aniquilação
De todo pensamento
Sobre o hoje
O ontem
E o depois de amanhã

Temo a mente vazia
E toda e qualquer fria
Que ela pode armar pra mim
Embora só com ela assim
Dizem haver a paz

Paz no fechar de olhos
E no pensar em nada
Temendo, ligo o som
E ouço discos
Como discos em uma estrada

Às duas passa um avião
Às três começa a feira
Às quatro quero a concentração
Ou talvez a descontração
Para fugir da beira

Um remédio é pouco
Dois, vi não adiantar
Três eu já nem penso
Pois quero acordar

Medo do pesadelo
Tocar o mundo e perdê-lo
Como os dentes e as vidas
Nessas idas e vindas
A um mundo que agora sempre custo a visitar

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Sobrancelhas, pilhas, descongelamento, descontrole e Mars Volta

Então, nesse sonho, minha mulher aparecia com uma monocelha
E achava que estava legal
Falei "tudo bem", mas que ela mantivesse as sobrancelhas guardadas
E guardadas dentro de um pequeno rádio
Suas sobrancelhas eram, então, pilhas pequenas
E o rádio, com elas ali dentro, passava a funcionar
Sobrancelhas, eram, de fato, sombrancelhas

Em outra parte do mesmo sonho
Minha mãe dirigia um fusca azul em sua querida Araruama
Mas o fusca uma hora passava a ignorar os comandos da hábil motorista
E andava sem controle algum
Tudo porque um grande pedaço de carne havia descongelado em seu interior
Mas tudo terminava bem

Abaixo, os dois novos vídeos do Mars Volta. Assista com amor.

Cotopaxi



Since We've Been Wrong

As verdades

Primeiro dia de aula na minha turma da primeira série do primeiro grau. Todos têm sete anos. Todos já sabem ler. Venho do turno da manhã. A grande maioria da turma já se conhece de outras tardes.

Logo nos primeiros minutos, já na sala de aula, mas antes da aula em si ter início, percebo na boca dos colegas que o mundo agora é permeado por palavras misteriosas que claramente indicam uma tentativa tola de ser menos criança. Depois fui saber que eram palavrões.

Também ouço alguém dizer que Papai Noel não existe. Pulga atrás da minha orelha. Tolos. Não sabem o que dizem. Dias depois, depois de eu muito insistir, minha mãe acabou confirmando a versão. É, eu estava em meio a adultos.

Então, na sala, antes do início da aula, como minutos antes da criação do universo, há alguma conversa. Sou eu e mais uns quatro meninos. A vontade de ser grande impera e a competição masculina, que aos seis anos, nas manhãs do CA, não sentia existir, agora é tudo o que importa. Sinto que parece certo ou pelo menos normal adentrar esse mundo. Joguemos.

Cada um analisa seus livros e a agenda recém-distribuída. Perguntas e respostas são as armas, os instrumentos de imposição, de afirmação. Cada menino precisa provar ao outro que é, de fato, o mais inteligente.

Logo alguém pergunta qual o maior estado do Brasil, como se estivéssemos em um quiz show infantil transmitido em rede nacional, e cujos resultados definiriam o "quem é quem" ao longo do ano. Respondo, sem pensar muito, pois era claro: "Amazonas!". Mapas geográficos e do corpo humano me interessavam bastante. Piauí, Pernambuco, húmero, tíbia, perônio, carpo e metacarpo.

"Burro...", alguém rebate. "Amazonas não é estado, é floresta!", e todos os outros imediatamente concordam. Percebo que o debate nada tinha a ver com inteligência ou conhecimento. Eram só crianças agindo como pessoas. Não retruquei.

"E alguém sabe se existe, no mundo, algum país com 'H'?", alguém levanta logo em seguida.

"Holanda!", digo. Se eu sabia, por que não dizer?

"Tá errado", alguém afirma. "Pois se fosse com 'H', falaríamos 'Rolanda'", completa, com toda a verdade, sabedoria e autoconfiança que o universo conseguiu concentrar ao longo de sete anos em seu corpo/cérebro/alma. E todos concordaram, admirando o saber do amigo.

Minutos depois, surgiu o universo. A professora escreveu seu nome no quadro e, com isso, iniciou o trajeto escolar pós-alfabetização que cada um, ao longo dos anos, seguiria do próprio jeito.

Mas o que estava feito, estava feito. E estava claro: sempre existiriam tais "alguéns", e a verdade andaria sempre ao lado deles, por mais errados que estivessem. E, amanhã, na falta da verdade, apelariam para a esperteza ou para os grandes feitos. Mas aos sete, tudo já estava definido.

Nem retruco.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Roberto Carlos - serei breve

Se um chimpanzé fosse escolhido apresentador do programa de tv que lançou a Jovem Guarda, ontem comemorariam os 50 anos de carreira dele.

Viva TIM MAIA!!!!!!!!!!!!!

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Distratações

O chão está vivo
E tudo é o chão

Mesmo
Aquele humilde choro de Jericó
Aquela linda idéia de Girico
Querem que o dia acabe
Na demência que mostra como viver

Sim, querendo ser um alcoólatra
Que respira em ritmo ao gosto do freguês
Escale uma montanha e encontre o pedido de desculpas de Deus

Bisbilhoteria

Lunula é um nascer do sol

É uma época de desabamentos

sábado, 4 de julho de 2009

The Michael Jackson Mixtape


Mas o som fica. E fica direto.

Abaixo, as faixas da mixtape que finalizei há menos de uma hora e que foi construída a partir de sons dos discos "Music & Me" (1973), "Forever, Michael" (1975), "Off The Wall" (1979), "Thriller" (1982), "ABC" (1970) e "Goin' Back To Indiana" (1971), sendo este dois últimos dos Jackson 5.

Para baixar a mixtape, clique aqui. E dance.

01. Off The Wall
02. Burn This Disco Out
03. Baby Be Mine
04. Get On The Floor
05. We're Almost There
06. Rock With You
07. Take Me Back
08. Billie Jean
09. I Can't Help It
10. I Want You Back
11. Workin' Day And Night
12. Beat It
13. Euphoria
14. Wanna Be Startin' Somenthin'
15. Just A Little Bit Of You
16. PYT (Pretty Young Thing)
17. Thriller
18. Abc
19. Dear Michael


quinta-feira, 2 de julho de 2009

Som cinza e negro

É um tipo de sonho
Mas com a ciência de que se está acordado
De olhos fechados
Na cama
Era relaxar um pouco
E um som terrível, de tv fora do ar
Misturada a palavras
Que vinham de um círculo vermelho
Sabia que vinham de lá - via o círculo
Tomavam conta da minha cabeça
Alto a ponto de eu chamar por ajuda
E nem escutar minha própria voz
E assim foi
Umas três vezes em uma mesma manhã
Indo e voltando
Fechando e abrindo os olhos
Entrando e saindo desse mundo torto
Em um último esforço
Como o de alguém que não quer se afogar
Pulei fora
E cataloguei

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Karany Karanuê


Na noite do último sábado peguei um táxi para a Lapa. Minutos antes quase presenciei um sequestro. Pouco à frente de onde estava esperando algum motorista, "alguém a" roubou o carro de "alguém b" com "alguém b" dentro do veículo. Não sei o desfecho da história.

Ao contar sobre o ocorrido para o taxista, veio logo a pedrada:

"Para mim esses caras nem têm que ser presos. Tem é que matar", disse.

"Hitler dirige meu táxi", pensei.

Rapidamente a conversa tomou outro rumo. Um rumo familiar a mim, membro de uma família com várias restrições à Globo em função de sua exagerada influência nos campos político e cultural brasileiro. Segundo a gente.

Minha família possui membros radicais nesse sentido. Creio que eu seja um deles. Mas de uma forma saudável levamos essa nossa fundamentada implicância adiante. E viva Brizola!

Já o taxista estava alguns passos à nossa frente no quesito "paranóia global". Era um fundamentalista.

"A Globo vence qualquer ação na justiça. E ela destruiu a vida da minha tia", disse.

O taxista explicou: sua tia, a compositora Diana Camargo, co-autora da música "Karany Karanuê", foi, segundo ele, claramente roubada no VI Festival Internacional da Canção, realizado em 71. A canção, interpretada pelo Trio Ternura, teria tido votos favoráveis entrando na conta da música vencedora, "Kyrie", dos compositores Paulinho Soares e Marcelo Silva e também cantada pelo Trio Ternura. De fato, palavras estranhas com a letra K e o Trio Ternura eram a sensação do momento e não devem ter do que reclamar da competição.

"Minha tia viu o roubo de votos! Roubaram na frente dela", disse o taxista, da forma paranóica que conhecemos bem quando o assunto é perda e Globo. "Era muito boa a música. Karanyyyy... karanuêêêêêê...", cantarolou. "A música era o lado A do compacto que ela lançou. O lado B era outra ótima música: 'Sarany Saranuê'. 'Saranyyyyyy... saranuêêêêê', cantou. Gargalhei por dentro. Essa similaridade entre os títulos... Pensei em falta de criatividade ou demência. No passado ou no presente.

"Engraçado os nomes parecidos, não?", perguntei.

Acho que ele não respondeu.

"O senhor sabe o que significam essas palavras", perguntei também.

"Não", disse ele, de forma seca.

"Minha tia processou a Globo", continuou, "mas não conseguiu nada. Tava todo mundo comprado. Depois ela descobriu que o próprio advogado dela trabalhava para a Globo. E a Globo também mandou recolher todos os discos dela nas lojas", falou o sobrinho.

"Mas como? O que a Globo alegou para conseguir tirar os discos dela das lojas?", perguntei, ao mesmo tempo em que jogava lenha na fogueira. "Essa Globo é foda mesmo...".

"Não sei como, mas tirou. Vou te dizer... Minha tia tinha condição, tinha recurso, mas por causa disso, morreu na miséria", acrescentou o taxista cujo nome nem consegui ler.

"É fogo a Justiça... Advogados, juízes... É todo mundo corrompido mesmo. Todos têm um preço", afirmei, emendando algo que poderia fazê-lo ficar feliz ou revoltado de vez.

"Um dos meus maiores ídolos era um dos principais opositores, senão o principal opositor da Globo", e pronunciei o nome de Leonel Brizola.

"É, o Brizola fez muita coisa boa", me surpreendeu o motorista. "Fez os CIEPS, ajeitou a Avenida Brasil... Mas proibiu que a polícia entrasse na favela! Por isso que a violência está do jeito que tá. O morro tá descendo e eu nem quero saber. Pra mim, não tem isso de prender: tem é que matar todo mundo", concluiu ele, encerrando a conversa paranoico-lamento-saudosista com uma volta ao ponto inicial, bem fascista.

* * * * *

Saltei na Lapa. Festa junina de rua. Um garoto parece ter um ataque epilético perto da nossa mesa. "Isso aí é fingimento. Agora há pouco ele caiu e, quando fomos ajudar, ele levantou rindo", disse um festeiro, ignorando carasterísticas comuns aos curto-circuitos cerebrais.

Muita gente em volta do garoto, que nem sei se era garoto mesmo. Polícia, fotos, massagem cardíaca ou segurar de língua. Pouco depois tudo estava normal, com o garoto que talvez não fosse garoto comendo uma maçã do amor na barraca ao lado ou dormindo para sempre dentro de um rabecão.

As cervejas seguiram dando o tom da noite, que se tornaria chuvosa mais tarde. O celular, molhado, falava por meio de códigos:

"43334444444333444###343434333344443434333" era tudo o que ele podia pronunciar, insistentemente, com algumas variações.

"Karany Karanuê", pensei.

"Sarany Saranuê", completei.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

MJ





Acho errada essa morte
E que a beleza tenho sido resultado de dor
O tempo disfarça, engana, ajuda
Mas não faz o espinho se transformar em flor

Que o tormento dê lugar a alguma paz
E que a alegria dessa vez venha pra ficar
Quando o corpo pede que não continue
É então a hora de começar a brilhar

terça-feira, 23 de junho de 2009

Um conto sobra nada

Olá.

Poderia contar algo sobre longos caminhos.
Encontros.
E mudanças sutis na rotação terreste.

Mas não.

Conto sobre nada.
Um conto sobre nada.

Sobra nada.

Só buracos.
Que podem ser reabertos.

Basta querer.

Ou esquecer.

Um conto sobre nada acontece.
E acontece de eu não querer mais nenhum controle.

Que os rios de vida ou doença sigam vias próprias.

Sem culpa.

Sem dor.

Já que há uns oito anos descobri que não sou Deus.


sábado, 20 de junho de 2009

Um Tipo de Laura Dern





















Metrô: o coroa se apresentou
E viajou conversando com um tipo de Laura Dern

Quando ela saltou
No Estácio
Nem um novo aperto de mãos impediu que o coração dele
Se quebrasse bem na minha frente

Durante a conversa
Galã
Colete e postura
Depois
Sua coluna parecia um ponto de interrogação

Então deixou-se escorregar pelo banco
Entregue
Sem um grama de alegria e esperança naquela noite

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Funk Mixtape contra toda e qualquer frustração


Motivado pelo quase total desconforto sentido no último sábado, quando eu, minha mulher, irmão, cunhada, primo, prima e respectivos amores fomos ao Circo Voador. A festa: "Eu Amo Baile Funk".

Menti. Fui hipócrita. Eu não amo o baile. Amo o som. Mas acabo caindo naquele papo velho, de quem gosta da versão "teia de aranha" do estilo... Achei que seria uma noite de bases velhas, de coisa boa. Mas não rolou. Defendo o som feito atualmente no Brasil como legítima forma de expressão cultural popular. Quem mete o pau deveria comer discos do Tom Jobim no café da manhã. Mastigar vinil, entende? Mas o fato é que, em meio a tanto funk feito no Brasil (é o samba do futuro: é da galera e brota em todo lugar), tem muita coisa boa e muita boa porcaria. Destaque para os oportunistas ricos jovens ultrabrancos de São Paulo e Curitiba, todos de olho no mercado internacional. Funk pra turista, feito por gente que nem sabe quem é Steve B. Mas voltando ao "Eu Amo Baile Funk" do último sábado, mesmo (felizmente) não abrindo espaço para os Bonde do Rolê da vida (aí seria o fim dos tempos), só merda foi tocada.

E com DJs que tinham compromisso maior com repetir seus nomes repetidos do que tocar coisa boa, eu não sei o que acontecia, mas a batida - que é o coração do acontecimento - parava toda hora. Cansativo. E aí vinham aquelas convocações de torcida de futebol, aquelas músicas dedicadas a celebração de cornos, gays, carecas, pessoas de camisa verde, amizades com moças de vida fácil... Parecia uma festa infantil, mas com cerveja. Dê cerveja e malícia a crianças que elas fazem exatamente aquilo.

Malícia que dá origem às visões do inferno. Homens dançando e rebolando como mulheres bundudas e usando isso - acreditem - como eficiente instrumento de atração de exemplares do sexo oposto. E as mulheres, ao atenderem ao chamado, dançavam como quem copulava. Cara, é legal ver tal cena se a moça é visualmente interessante, mas acontece que o "Circo" se torna palco de todo tipo bizarro de exibição-sexual-dançante-com-dedinho-na-boca, e executada por todo tipo de gente. Algumas mulheres pareciam ter oito quilos, e oito quilos, mesmo em movimento, não excitam. Outras já passavam da idade e seguiam com o mesmo bailado. E era tudo playboy e playgirl ali. Todo mundo. O preço era alto (não para a gente: valeu, Cristian!). Mas não é isso. O estranho não são os biotipos e nem a sexualidade/sensualidade obrigatória, quase mambembe, quase National Geographic. Era o som. O som era ruim.

Quem tava ali, musicalmente falando, só tinha memória ou idade ou sei lá o que para se recordar do funk feito a partir de 94, ano em que funk era coisa de Xuxa. Então quando o DJ pensava em "som sinistro, do passado, clássico das profundezas abissais do oceano do funk", não pensava em "Chain Gang", mas em "Dança da Cabeça". Aí não dá.

Então resolvi fazer uma mixtape para exorcizar esses maus pensamentos/sentimentos e frustração biomusical. Só parada do mal. Se você baixar, será feliz e dançará até seus pés e alma sangrarem na sala de estar, na festa, ou deitado, de olho fechado, sem necessariamente mexer sequer a cabeça toda hora sem parar/para cá e para lá.

Funk Mixtape - M. Funk
por Marcio Teixeira de Mello

01. Ose' - Computer Funk
02. J.J. Fad - Supersonic
03. U Gents - Chain Gang
04. MC A.D.E. - How Much Can Take
05. Freestyle - It's Automatic
06. Bass Patrol - Faking No Movies
07. Salt'n'Pepa - Push It
08. Disco Rick & The Dogs - Your Mamma's On Crack Rock
09. Bardeux - Bleeding Heart
10. Shavonne - So Tell Me, Tell Me
11. Trinere - I'll Be All You Ever Need

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Persemonições Extintagu(i)avoa


Persemonições Extintagu(i)voa
Marcio Teixeira de Mello


Árvores
Nascendo sobre árvores
Que nascem sobre árvores
E ela faz a curva
Que dará na abertura
Do olho vivo em dois

Sobrevoando pirâmides
Fuja das perseguições
Do seu jeito
E das premonições
Tão certas e tão claras
E do claro efeito

Brotando do chão
Não de dissipe
Talvez se mortifique
Pra que se prontifique
E aceite o que vem

Pois nenhuma
Ligação fora de hora
Fará de quem não chora
Alguém fraco e menor

Não se molhará
Em águas que estão secas por dentro
Não se extinguirá
Pois isso de extinção é tolo e sempre vai com o vento

terça-feira, 9 de junho de 2009

Dê a Mão

Letra: Marcio Teixeira de Mello

Dê sua mão ao diabo se quiser conhecer o bem
Conte os meses aos amigos, descarrilhando o trem
Quanta gente nessa rua, desse lado da minha casa
Minha mão nesse vazio quente que não para

No passo transparente passo a febre que ninguém me deu
E quem é você depois de mim?
Dê comida ao seu mundo
Longe, frio e quase ruim
Mas você não sabe imaginar

Querer ou perder
E se despedaçar
Revele o chão desse lugar

Pois a calma, o tempo e a lembrança eu já sei
Dê a mão ao diabo na rua
Eu dei

Dê a mão ao diabo se quiser conhecê-lo bem
Conte os meses aos amigos, descarrilhando o trem
Quanta gente nessa rua, desse lado da minha casa
Minha mão nesse vazio quente que não para


sexta-feira, 5 de junho de 2009

Curiosidade Mórbida Subaquática

"Curiosidade mórbida" é o tema de todos os jornais brasileiros nesses últimos dias.
Não que o avião, do ar, agora no fundo do mar, não seja um tema digno de atrair o ser humano.
Mas assim, desse jeito, é monótono.

Quando estou na estrada e passo por um acidente, sei que é um acidente.
Não preciso esticar o pescoço para tentar ver pedaços de ferro e de gente.

Os jornais, nesse momento, são esses pescocinhos esticados olhando pela janela do ônibus.

Pelo menos não estão deseperados buscando culpados...
Mas é que o acidente não é "doméstico"...
Se fosse, já teríamos trocado a lamentação pela caça às bruxas, elegendo novos PCs Farias e Edmundos aéreos-subaquáticos.


quarta-feira, 3 de junho de 2009

A Cor Que Você Vê

Letra: Marcio Teixeira de Mello

Desculpe pelo ataque-surpresa
Pela irracional natureza
Que insiste
Em dominar

Desculpe pelo atraso na hora exata
Pela falha de conexão

Eu tentei olhar mas esqueci
Qual é a cor que você vê

E eu tentei falar mais alto
Bem mais alto que você

segunda-feira, 1 de junho de 2009

O Sumiço do Som (ou Eu Acho Que Sei Como é Sofrer um Acidente de Avião)

De tanto sonhar com isso, acho que sei o que acontece ou como me comporto.

Não. Na verdade, acho que não me comporto.

Independente das sensações pré-fim, a idéia de fim óbvio não é o mais estranho. Não importa se a nave cai como se um deus a tivesse nas mãos em uma hora e, no momento seguinte, não mais, ou se ela desce como quem desce um ralo, ou como dedos soltos que deslizam pelas espirais de um caderno. O meio não importa quando o fim é certo.

O que chama mais a atenção é a massa sonora sem controle.
Louca.
Sons sólidos.
Sons que podem matar antes que a própria morte os receba de boca aberta.

São sons que formam um universo de vidas e incredulidade, que, um segundo depois, somem.

Assim.

O sumiço da vida, ou o surgir de toneladas de metal branco em meio a um oceano negro e cheio de outras formas de vida, não são o mais assustador.

O pior, é o sumiço do som.



domingo, 31 de maio de 2009

Falando por meio de outrem

Só tenho escutado Beatles e cada cara que integrava esse inexplicável grupo de pessoas.

Então acho que o vídeo de "I Am The Walrus" pode falar por mim no dia/noite/dia de hoje. Acompanhem os passos de homens-ovo, de policiais perdidos e de músicos felpudos e animalescos.

Note ainda que eu sou ele tanto quanto você é ele (e você também sou eu) e estamos todos juntos. Pense ainda em porcos, milho, jardins e em pessoas que deixam a cara crescer.

Hoje não irei falar. Deixarei que os caras falem por mim. E estarei em boas bocas.




E que Phil Spector, figura de importância absurda na história na música mundial e personage chave em grandes momentos da história dos Beatles, juntos - como em "Let It Be" - ou não - como em "All Things Must Pass", do George Harrison -, encontre alguma paz de espírito.

Tempo para isso ele terá. Afinal, 19 anos na prisão são quase 7 mil dias.

Que merda.


quinta-feira, 28 de maio de 2009

Não Quero Dizer Mais Nada

Letra: Marcio Teixeira de Mello

Vamos lá
Como assim?
Preciso mais de você do que precisa de mim

Como vai?
Vou assim...

Qual lugar?
Logo assim?
Nada pode me deter
Mas claro que pode, sim

Como vai?
Tão ruim...

Eu quero dizer que sim
Eu quero dizer, enfim
Não quero dizer mais nada
Esse mundo é uma piada

Vamos lá
Como assim?
Eu preciso que você agora precise de mim

Como vai?
Vou assim...

terça-feira, 26 de maio de 2009

Obina e a ingratidão


Não gosto da notícia da ida do Obina para o Palmeiras. A massa rubro-negra pode me defenestrar, mas acho que o baiano tinha que ter contrato vitalício com o Mengão.

Afinal, fez gols de título, gols que afastaram o Flamengo da Série B... E é um personagem que, se tivéssemos um decente departamento de marketing, poderia ser uma bela fonte de receita. Aliás, se o Flamengo tivesse psicólogos como parte real da comissão técnica, jogadores com o perfil do Obina, de grande potencial mas que precisam de apoio e incentivo, iriam render muito mais.

Agora, o cara é tratado como um cão. Somos ingratos pra cacete. Um pouco mais de respeito com quem nos deu várias alegrias seria o mínimo que se poderia pedir.

Pelo menos Obina agora será cobrado por profissionais sérios, receberá em dia...

Valeu, Obina. Seu nome, queiram ou não, já está para sempre na história do Flamengo.

E, sim, espero que, em breve, você e sua estrela voltem a brilhar por aqui.

domingo, 24 de maio de 2009

Balas no ar: eu sobro








Sonhei com Manguinhos
E pontes
E com aquele cheiro da refinaria
(o esmalte no ar agora faz tudo voltar)
E vôos
E com a polícia fuzilando todo mundo
Mas eu sobro

Sonhei com uma universidade
Escrota
Cheia de gente branca e esperta
E então alguém abria fogo
E fuzilava todo mundo
Alguém já morto, na minha frente, aceitava as balas que eram pra mim
E eu sobro

-------

Mesmo no pesado, no bélico, no balístico, eu sobro, e vejo alguém beber um vinho sem álcool chamado "Uva Pra Mulher".

Uva pra mulher.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Maçã

Sonhei hoje que tinha tatuado uma grande maçã ultrarealista atrás do lábio inferior. Uma maçã com a parte mordida voltada para a frente.

Acima dela, mas sem tocá-la, um boneco azul feito apenas com traços. Como o Trapinho, personagem do meu tio, o grande Wander Monteiro.

Abaixo da maçã, um texto ridículo. Algo como "Worldship Soccer Footballship". Algo que, se fizesse sentido, sairia como "Fraternidade Mundial do Futebol da Fraternidade do Futebol". Eu tinha vergonha do texto, que, aparentemente, tinha brotado ali.

Mas a tatuagem também era um sol. Acho que um sol que virou maçã.

Nas ruas, peças de carro, todas cheias de furo, se deslocavam no ar em câmera lenta. Acho que todas eram semelhantes ao que acho que é o cano de descarga "completo". Não só o cano, mas o que vem depois dele e fica sob/dentro do carro. Como um dente, que vemos a ponta, e não a raiz. Não sei. Era como se as peças estivessem dentro de uma piscina. Eu tocava algumas e as empurrava levemente para que voassem em determinadas direções. Uma, me lembro, quase acertou um mendigo sentado na rua Desembargador Isidro, na Tijuca, Rio de Janeiro. Torci para que não alcançasse e nem machucasse o cara.

Também voei. Voei como quem nada. E enquanto voava, lembrava de outros sonhos em que era perseguido por gente que, do alto dos prédios, me via voar.

Nos meus sonhos, voar sempre foi errado. Nunca ninguém apontou para mim e disse "que legal, ele voa, mãe". Querem é me abater, mas acho que não sei a razão. A psicanálise falará de liberdade versus opressão do mundo. Liberdade contra os padrões comuns e mais fáceis.

Eu digo que não sei, e sigo voando, com minha tatuagem de maçã, meu personagem azul e palavras sem sentido.

O que é muito bom.


quarta-feira, 20 de maio de 2009

The Will To Death


Então dizem por aí que John Frusciante, o cara que renasceu das cinzas para fazer a música mais fantástica do universo, estaria novamente perdido na floresta, e há três semanas. Dizem, mas não há nada confirmado. Pode ser uma superlenda que faz com que o universo dos Chili Peppers ganhe movimento em tempo de marasmo total. Mas a possibilidade gera alguma reflexão.

O fato é que Frusciante cheirava pó antes dos 15 anos. Com vinte e poucos, tamanha era sua entrega à heroína, que chegou a morar na rua e comer sopa pra mendigos. Talvez até em função da ausência de dentes. E de dinheiro, já que o cheque dos royalties ficava cada vez mais magro.

Então, chega a sobriedade. E ela fica. Composições unidas gerando quilos de discos perfeitos. Mas sobriedade apenas fica, não é. Todo mundo sabe que um viciado será sempre um viciado. Talvez longe da droga durante muito tempo, ou até o fim da vida. Mas sempre um viciado.

Esta história do sumiço do cara e de uma possível volta aos velhos hábitos pode, talvez, não ser real. A fonte pode ter sido mal informada, e na maior boa vontade tornou pública a notícia. Mas que é bem possível, pode crer que é.

Frusciante, mesmo após limpeza, crescimento e busca da luz, é um cara obviamente auto-destrutivo. É um sujeito deprimido e que aceitaria a morte numa boa. Já disse isso em entrevistas. Talvez até lhe dê as boas-vindas. Seria uma pena, pois o cara poderia criar e criar e criar até 2070. Mas se o desejo, e uma possível fraqueza, indica outro caminho, que seja. E que fique bem.

No final, o que é fraqueza ou força? Que fique feliz, fazendo o que for, estando onde estiver.

Vai que de repente ele agora está decifrando o funcionamento de um sintetizador de 1972, de 200 quilos, pensando em correr 2 km daqui a uma hora.

Mas vai que de repente ele está azul agora, ou cinza, mas andando feliz em uma floresta que ele conhece e ama.

Tudo estaria bem.



segunda-feira, 18 de maio de 2009

Pensando em um terremoto e em linhas retas

Pouco mais de uma da manhã. Informações sobre um terremoto em Los Angeles chegam. Não me preocupo. Lembro apenas do tal Big One, que, prometem, juram, esperam, fará um dia a República da Califórnia se transformar em uma ilha. Mas esse dia nunca chega.

Esperando, hippies sequelados armazenam milhares de litros d'água. Água já velha, já podre. Pais de família republicanos constroem abrigos anti-míssil e convidam amigos de seus filhos para visitas, e, a sós, jogam videogame.

Estrelas de Hollywood se entregam a grupos pacifistas que, por meio da energia positiva, farão o terremoto futuro se transformar em uma gigantesca onda de amor. Semiestrelas do passado, com rostos de plástico, se entregam a seitas que já sabem quando o próximo cometa passará.

Penso em um balançar de prédios que não sei o que é e que nada significa para mim. Penso em tetos, que de base da segurança do habitar ("tenho um teto pra morar"), se tranformam em armadilhas. Ter seu teto sobre você e sobre sua família deve ser o mais profundo tipo de traição que um homem pode sofrer.

Penso na Falha de San Andreas e em como as linhas retas, as certezas do mundo, podem ser curvas. Penso também nos Red Hot Chili Peppers e nessa história de que John Frusciante poderia estar sumido há três semanas, vivendo dentro de uma seringa carregada de heroína.

Penso que seria estranho se Los Angeles acabasse sem eu a conhecer. Deve ser um belo lugar, cheio de palmeiras, praias, patins e pornografia.

Terremoto. Nada é imutável. O chão passeia. E a gente vai.

Foto original retirada do site
The Figure Head e remixada por mim.


quinta-feira, 14 de maio de 2009

Falsa Coral

Letra: Marcio Teixeira de Mello

Tão bonitas suas homenagens
Todos sempre, então, amaram
Supermaravilhosas imagens
Vocês sempre apresentaram

Cortam a cabeça e o coração
Seguem sempre sem razão
Seguem sempre pra ganhar
Fácil dizer que queriam que estivesse aqui ou lá

Mas, pior do que o que não há
É o que nunca esteve, então
Pior que superestimar
É fabricar uma falta de chão

Continuando a emocionar
Rolem lágrimas de urina
O resto pode viver só
Feito um rabo de uma lagartixa

O resto pode viver só
Não é o que fazem e o que agrada?
Não é o que está próximo do nada?
E não é tudo que eles querem ser, afinal?

E não é tudo que eles querem ser?

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Considerações sobre a superioridade rubro-negra, Libertadores e Bangu: 1º time a aceitar negros

Não quero precisar mais falar o que vocês irão ler abaixo. Então, por favor, leiam e aprendam algumas coisas sobre Libertadores, lendas vascaínas e a conclusão óbvia: Flamengo é Flamengo, logo maior que você, você e você.
- Se você torce para o Fluminense:

Parabéns, pois seu time eliminou o Boca de uma Libertadores. Vocês ainda venceram o São Paulo na mesma competição. Mas, no final, tomaram na final. Não irei me alongar, falando sobre divisões inferiores, viradas de mesa e afins. Passo.

- Se você torce para o Botafogo:

Parabéns, seu time teve o Garrincha. Tchau.

- Se você torce para o Vasco:

Venceu uma Libertadores batendo o River na semifinal. Oh! Parabéns! Mas River já não era potência nenhuma, né? Mas tudo bem...

Final contra o Barcelona do Equador. Ok. Final é final. Ganhou. Se bem que Libertadores nos tempos modernos é um torneio limpinho, cheiroso, hidratado, e não uma guerra bárbara como até meados dos oitenta. Não se leve tão a sério...

Mas, já que venceu, ganhou direito a disputar não um, mas DOIS MUNDIAIS DE CLUBES... É isso mesmo: com uma Libertadores, o time poderia ser bicampeão mundial. Mas Vasco é vasco, né? E, como tal, tomou no lombinho nas duas vezes.

E depois de jogar, e tomar, do Real Madrid, teve a chance de levar um título de consolação: a Interamericana. Mas levou do DC United, dos Estados Unidos. Lamentável.

- Mas aí, não podendo falar de títulos e tal, e lembrando que torce para um um clube de segunda categoria, o vascaíno se desespera e vem falar que "o Vasco tem uma linda história, pois foi o primeiro time brasileiro a aceitar negros".

Aí eu o chamo de mentiroso ou mal informado, uma vez que o Bangu foi o primeiro time brasileiro a permitir que um negro fizesse parte de sua equipe. Isso foi em 1905, e o jogador chamava-se Francisco Carregal. Mas o Vasco leva a boa fama porque o seu time que contou com negros (descendentes dos ESCRAVIZADOS pelos... PORTUGUESES que fundaram o... VASCÃO!) foi campeão em 1923. Vale lembrar que o futebol vascaíno só começou em 1915, portanto, 10 anos depois de o Bangu já contar com negros em seu time.

Leiam http://www.bangu.net/informacao/reportagens/20090417_2.php e saibam um pouco mais sobre o assunto.

Então não venham com essa de "história bonita do Vasco", pois "história bonita do Vasco" é apenas conversa pra boi dormir. Papo de derrotado, na verdade.

- Aí chega alguém com faculdades mentais altamente comprometidas e diz que a Libertadores vencida pelo Flamengo foi uma "moleza". Que o Flamengo não teve que eliminar o River! Cara, vem cada um com cada argumento ridículo... Mas nós, flamenguistas, somos pacientes. Pacientes e perseverantes.

Depois de xingá-lo, direi calmamente:

Sobre a Libertadores do Flamengo, vá ver quantos esquadrões o Flamengo teve que bater no Brasileiro de 80 para se classificar para aquela porra. Vá ver quanto sangue jorrou em gramados ermos nos confins da América do Sul, sem jogo transmitido após a novela. E vá ver quantos babacas palhaços atleticanos tiveram que ser demolidos ao longo do caminho.

E se o Cobreloa, que perdeu o título para o Flamengo em um jogo em campo neutro, após duas partidas de muita porradaria, deixou Nacional e Peñarol pelo caminho, significa que era uma equipe superior a essas. Irmãos, para ser campeão, o Flamengo teve que bater Olímpia, Cerro Porteño e Deportivo Cali, potências sulamericana na época e times extremamente tradicionais em seus países. E vocês têm idéia do que era a Colômbia e o Paraguai em 81? E a Bolívia? Ah, tá...

E se o River, verdadeira obsessão do vasco (vai ver que Freud explica... tem a coisa da faixa diagonal copiada da camisa dos argentinos... Rola, certemente, um fetiche platino aí) tombou na 1a fase da Libertadores de 81, lamento: a culpa não é do Mengão.

Mengão esse que, tempos depois, fez 3 a 0 no Liverpool e sagrou-se Campeão do Planeta Terra.

Mais alguma dúvida? Alguma questão? Parem de querer comparar seus times ao Flamengo e passem a se dedicar a outros esportes ou passatempos. Vôlei, por exemplo, é uma perfeita mistura entre esporte, passatempo e frescura. Dediquem-se ao vôlei e nos deixem curtir o nosso Olimpo, habitado por seres como os que você vê no início desse post.


Obs: Boa parte das fotos acima integram a capa do livro "Os Dez Mais do Flamengo", de Roberto Sander. As demais saíram de álbuns de figurinhas, a maioria do de 87.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Saindo da Prisão

Ela vive hoje seu último dia na prisão
E imagino as coisas boas que agora passam por sua cabeça
Penso em imagens que devem ir ao seu coração
E sei que ela certamente irá crescer

Amanhã o sol será diferente
E o sou será mais ainda
Amanhã a vida lhe sorrirá tão bonito
Que ela também sorrirá

E os dias seguintes farão carinho nela
Que acenará para cada vagalume
Livre
E brilhante
Como será o seu caminho

Amanhã ela sai da prisão
Sem grades
Visíveis
Sem ter cometido crime algum
Sem ter feito mal algum
Sendo apenas o que sou e o que todos somos
E somos um
E sai pra ser feliz

domingo, 10 de maio de 2009

Mau Jeito










Mau Jeito
Letra: Marcio Teixeira de Mello

Sol que late lá fora
E eu já estou aqui dentro de novo

Mas tudo fica bem agora
Eu sei o que é que eu ouço

Você me abre as portas
Fico de joelhos
E não sei me comportar
Me perco diante dos espelhos
E não sei

Desculpe qualquer mal entendido
Desculpe o mau jeito
Desculpe tudo de ruim que acontece
No meu peito
Não tenho controle, não

Não tem controle, não

Não posso me retratar
Queria confirmar
Mas é muito complicado
Queria estar contigo
Estar sempre do seu lado

E agora
O que pensar?

O que dizer pra você?

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Para baixar a música, assim, de graça,
clique aqui.


sexta-feira, 8 de maio de 2009

Hepático

Não sente o cheiro da ração,
do fígado regenerando-se,
da seringa sem agulha que despeja cura?

Vamos todos clarear o amarelo

Mas esqueça os dentes

Não é nada disso

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Tirar as aspas de doenças
E doenças de aspas
De vespas
De moscas
Vastas
No sangue

Asas de inseto se diluem
Já que moscas não sabem nadar

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Reafirmo o amor total
E o chute no saco do mundo real
Na real, não se inventa a doença
O problema
O sim e o não

Tudo é branco no campo de amor que todos devemos seguir

E o que não é,
dentro do animal,
que também é amor,

Será.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Tudo Está Arruinado

Dia desses achei o vídeo da fantástica "Everything's Ruined", do Faith No More. Que coisa linda. Algo justo para a melhor coisa do "Angel Dust".

Então, dia desses, a Carol, minha linda esposa e garota que saca das paradas, me recomendou dar uma conferida nessa letra do Mike Patton. Realmente nunca havia me ligado nela.

Vi, e tive que colocar aqui. Aproveitem esse momento mágico, de harmonia inicial, aparente lucro e desgraça final. E em português, estilo "Good Times 98".

Tudo Está Arruinado

Nós éramos tão felizes...
As coisas deram melhor do que havíamos planejado
Capital do garoto, mulher e homem
Nós éramos como tinta e papel
Ou números em uma calculadora

Sabíamos aritimética tão bem
Fazendo hora-extra
Nós completamos o que foi nomeado
Nós tivemos que nos multiplicar

Um pequeno bebê saltitante
Um centavo de cobre brilhante

E ele se gastou
Não nos escutaria
Mas quando ele perdeu o apetite
Ele perdeu seu peso em amigos

Ele se tornou um niquel gordo tão rápido

Então veio a puberdade
Exponencialmente
Logo, nosso menino se tornou um milhão
As pessoas o amam tanto
E ajudaram-no a crescer

Todo mundo sabia a coisa que era melhor
Claro, nós temos de investir
Um centavo não fará a menor diferença

E ele nos deixou orgulhosos
Ele nos deixou ricos
Mas como devíamos saber
Ele era falso

Agora tudo está arruinado

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E tome o vídeo

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Eu sou é Flamengo, rapá!!!



Eu sou é Flamengo, meu amigo. Sem palhaçadinha. Sem humor errado.
Sem branquitude otária e direitismo retardado.

Sou Flamengo, irmão.
Favelado, você diria.

Sim, favelados, e iremos invadir sua casa, enfiar troféus na sua geladeira e pixar suas paredes de vermelho e preto.

Faremos seus filhos se tornarem rubro-negros. Serão felizes, acredite.

Pois somos a alegria. O gol inesperado. O seu pênalti que não entra. A cobrança que não falha.

O azar que vira sorte.
O ingresso falso que funciona por mágica.

O sanduíche que não se paga.
A cerveja moralmente ofensiva à ordem.

Somos o Kléberson. Somos o Bruno. Somos o Angelim lembrando que a diminuta torcida do Botafogo não merecia nada de bom.

Afinal, o bem só pode tocar o que existe, correto?


Somos o 3, o 5 e o 31.


Somos, e desde 1895.




E por isso...



...os otários passam mal.




Flagra: os oito otários passando mal

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Bobões

Ainda procuro saber se alguém que estudou comigo no passado acabou dando sentido à sua própria vida, tornando-se prostituta, ator ou atriz pornô, traficante, gigolô, viciado, morto em overdose, transsexual, assaltante, estuprador, terrorista islâmico ou dançarino.

Mas acabo descobrindo que todo mundo virou advogado.


Aí lamento. E muito.

terça-feira, 28 de abril de 2009

Gripe Suína




Quem diria que "oinc oinc" seria o som do fim do mundo, hein?




Ainda acho que isso é arma biológica do exército israelense...

domingo, 26 de abril de 2009

Dr. Juan, PhD


Juan insere medo e pensamentos suicidas na mente do adversário


Então o Maicosuel, que estava jogando pra caramba, driblando Deus e o mundo e ameaçando enormemente a defesa rubro-negra, resolveu sambar.

"Então samba, Maicosuel!"

Foi quando Juan, com sua bravura e putidão características, deu uma aula gratuita de psicologia no gramado do Maracanã. Lindo! Um gol invisível a favor do Flamengo.


"Toma, Maicosuel."

"Ouça, Maicosuel."

"Dedo na cara, Maicosuel."

"Seu nome é horrível, Maicosuel."

"Arrange uma contusão, Maicosuel,

ou levará mais, Maicosuel."


Reinaldo, ex-rubro negro, também treme. Também se machuca.
Esses caras são demais!


E o Flamengo, mesmo jogando mal, errando tudo, com Kleberson, Ibson e Emerson funcionando como verdadeiros zeros à esquerda (provavelmente guardando atuações de gala para a semana que vem), arranca um belo empate via Willians, mas contando com a bonita ajuda do "predestinado" Emerson, defensor do Botafogo.

A próxima partida será emocionante? Certamente. Tudo pode acontecer? Não, nem tudo...

Pois tudo indica que, mais uma vez, o Campeonato Carioca será concluído com bandeiras, camisas e sorrisos em vermelho e preto colorindo o planeta Terra. Que bonito é.



Dr. Juan

sábado, 25 de abril de 2009

E Deixo o Rio































**FAIXA SECRETA**


Para os leitores fiéis, uma imagem da por todos admirada Dita Von Teese.
















Mas experimente clicar na imagem. Fará uma rápida volta no tempo, tendo acesso
a uma pequena peça audiovisual, de extremo bom gosto,
que tem como estrela a moça do cartaz.

Raridade de primeira para bombar os acessos a esse blog sagaz!

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Grey Gardens


Acho que nos jardins cinza da alma de cada um
A dor é trocada por um passo
Uma dança
Uma música que nos leva além dos buracos nas paredes
Dos buracos do caminho da vida

Nos jardins cinza
Há música
E amor
E lembranças que, de gente, de tempo em tempo, viram flor

Madjunkylovehouse ou o nome que quiser
Edie Beale cruza as pernas
E no espelho, a mulher
Vê um coração brilhar
Vê um rosto de criança
Ri, e a marcha da esperança
Bem nos leva até o mar


Baixem o filme: http://thepiratebay.org/torrent/3776099/Grey_Gardens

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Coca Zero: o retrato de um vício (Parte 2 - O Ciclamato na medida certa)

Eis que o cavalo negro de cafeína e aspartame mostra os dentes.

Pois o doce falso que ilumina a boca é fruto de algo mais barato, mais sujo, mais crack que o aspartame: o Ciclamato de Sódio.

Prazer, Ciclamato. Você sempre nos deu prazer.

Mas sendo objetivo, após fazer alguns cálculos, sinto-me já pisoteado pelas ferraduras do animal Zero.

Pois a própria Coca-Cola Brasil (http://tinyurl.com/6kpllm) diz que o limite seguro para o consumo de Ciclamato de Sódio é de 11mg ao dia por cada kg de seu corpo.

Então, se peso 75 kg, posso consumir 825 mg a cada 24 horas. Ok.

O problema é que a cada 100 ml de Coca Zero, temos 84 mg do Ciclamato (fonte: http://tinyurl.com/dbvxhr). Se bebo 2 litros de Coca Zero por dia (100 x 20 = 2.000 ml), tenho 84 mg x 20 = 1680 mg por dia. Ou seja, mais do que o dobro do considerado seguro pela Coca-Cola.

Legal.

"Por favor, um câncer duplo com gelo."

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Esquece isso, rapá!!!! Deixa de ser paranóico!!!

Segundo o site da Coca (http://tinyurl.com/cgucgd), cada 100mg do místico e mágico líquido negro zero têm só 24 mg de Ciclamato de Sódio! Dá, então, para, "de forma segura", beber quase 4 litros por dia!!!!! Incríveis 3,4375 litros, para ser mais preciso.

Viva!!!!

A vida não nos daria um golpe tão duro e cruel assim, né?