sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Ninguém é maior que ninguém

Sobre o episódio de hoje em Vila Isabel, ok: o policial cumpriu seu papel, a galerinha aplaudiu e tal... Só continuo não entendendo essa de uma vida valer mais do que a outra.

Entendo os argumentos de todo mundo, e até as posições mais radicais, porque há motivos para se posicionar de forma radical, mas, cara, nenhuma vida vale mais do que a outra.

Quem é quem para escolher quem deve viver e quem deve morrer? Se o que chamam de "bandido" é o cara acusado de não valorizar a vida do outro e matar sem piedade, o governo, ao matá-lo, também sem piedade (levar corpo para hospital não é sinal de piedade) não se iguala a ele? Que porra de mundo é esse em que é certo que um morra e errado que outro morra? Existem balas boas e balas más? Armas boas e armas más? Fala sério...

Institucionalização da barbárie. E geral aplaude. Lamentável...

Claro que a gente vai para o campo da teoria, mas os policiais tinham que ser melhor preparados para vencer os meliantes sem ter que dar uma de "corte marcial instantânea", como fazem - e agradam - atualmente.

Ganhar na conversa, tentar entrar na cabeça do cara sem ser com um projétil. Jogar o jogo dele e, quando o cara baixar a guarda, 10 policiais já estarão em cima, imobilizando o maluco.

O jeito atual é fácil. Atira, mata o cara, às vezes mata o refém também... E vida que segue. Cara, é bem possível que tiros de alta precisão possam ser disparados com armas não letais... Mas a cultura da morte já faz parte do nosso dia a dia. A morte de um cara desses é motivo de festa aqui na comunidade. Ninguém pensa que o maluco que, sim, tava na vida errada, fazendo merda, talvez tivesse mãe, pai, filho, e talvez tivesse jeito.

Vê lá o Marcelo Yuka... Tentou ajudar a mulher que estava sendo assaltada e levou tiros que fizeram o cara perder os movimentos das pernas para sempre. Ele poderia estar aí, participando de movimentos pró-pena de morte e tal... Mas não: o cara mostra e explica filmes para presidiários - caras que poderiam ser aqueles que fuzilaram seu carro.

E aí, pessoas pró-bala, pró-morte: o que dizer sobre um cara como o Yuka? É otário? Não, irmandade: é mestre.

7 comentários:

Letícia Molinaro disse...

Amei o texto!!! Bjos

Sodré disse...

A bala nao escolhe. As vezes ela erra o alvo, as vezes é certeira. Mas é quase certo que se uma arma é usada com algum objetivo determinado, o potencial de uma, ou mais mortes, é enorme.
Acho aterrorizante a quantidade de armas existentes no Rio; a quantidade; a forma banal e irresponsável com que sao usadas. A banalizacao vem da frequencia e da rotina. Me choco e me assusto !


Sou contra o belicismo e me sinto desampamarado demais sabendo que sou uma vítima potencial dele.


Lamento tudo que esse rapaz passou até o aco perfurar o crânio dele. Mas também me sentiría desconfortável caso ele, ao meu lado, em estado emocional alterado, sob pressao, num ato de desespero puxasse o pino da granada me dizendo: "_ Perdemos !".

Lamento todas as vítimas de armas de fogo, e acho muito foda estar sempre correndo esse risco, e lamento também escrever a frase anterior no gerúndio.

O Yuka pode ser mestre, mas se ele é "grande" para ir em cadeia dar palestras pros presidiários, eu também lamento que uma pessoa tao talentosa, tenha ficado na situacao que ele ficou assim como ia ficar de certa forma puto se eu fosse ferido gravemente, que comprometesse meus movimentos. Estranho nao ser responsável pelo meu destino.

Lamento tudo, e concordo com você, mas na realidade do nosso "Faroeste da Gema", onde tudo chegou, ao ponto que chegou, da forma como está, nao sei se acho que o policial tenha agido errado. Se a coroa fosse minha mae, eu estaría pensativo, porém aliviado.

O mundo tá feio, admiro sua comocao.

Um forte abraco.

Sodré

Cara de 30 disse...

Yuka é evoluído. Eu não sou. Que se fodam os bandidos que pegam mulheres, crianças, você, eu ou a sua mãe como refém na rua para não serem presos. FODAM-SE!

Tem muita gente que não tem nada na vida e não vira criminoso, Marcio. É simplificar demais olhar pra ele e dizer "coitadinho, ninguém olhou pra ele...".

Se fosse alguém da sua família lá, agarrada ao bandido, você teria tido outra atitude.

Depois da merda feita, depois que o Yuka viu que ficaria paraplégico (ou tatraplégico, não sei...) mesmo, ele teve que tocar a vida e tentar melhorar alguma coisa. Palmas pra ele. Como disse, ele é um ser evoluído, com certeza.

Abraço.

desuairma disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
desuairma disse...

É complicado. É difícil.

Penso também: "Uma vida vale mais que a outra?"

Antes dele tomar qualquer atitude que mudaria o destino dele, ele já estava preparado no caso, se tivesse que matar, ele mataria. Porque não matar só a ele? Não.

Ele soube julgar antes de qualquer ato, que alguém refém poderia facilitar a fuga dele ou caso contrário ele explodiria tudo junto com a senhora. Ele soube julgar.

Ele tem sim uma família, mas não quer lembrar que a senhora tem sim uma família e muito mais digna que a dele ali, naquela situação.

Se um cara como esse tivesse realmente JEITO, não teria entrado nessa, meu irmão.

É sim chocante o mundo de hoje. Mas julgam pessoas inocente como estivessem matando uma formiga sem querer ao pisar no lugar errado. Nós.

Ele podia se entregar e acabar tudo em paz. Mas não houve. Antes de qualquer desgraça, explosão, uma atitude fatal. Eles sabem que isso acaba acontecendo.

Ele tinha um plano. Uma granada. Uma refém. Um assalto...ele tinha um plano. O plano também de matar. "-Se nada der certo, me mato e te mato senhora!"

Bato palma para o policial, pois sobreviveu uma vida que não oferece risco a sociedade e não sobreviveu duas vidas, uma que poderia chegar na outra esquina e ter minha mãe de refém.

Se fosse minha mãe,família e essa fosse a saída, eu desejaria a morte pela primeira vez na minha vida.

É o mundo real que vivemos. Não há como pensar de outra forma.

Wania Bie disse...

Sabe quem matou esse cara? Ele mesmo.

Unknown disse...

Chico Science já dizia:

Banditismo por pura maldade ou banditismo por necessidade?

Banditismo por uma questão de classe