quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Carne

Você vive em casa. Ao seu lado, seu bicho.

Um dia, coroa, procurando seu óculos no escuro do seu apartamento, tropeça. E cai.

Na queda, bate sua cabeça. Fica ali, desacordado por um dia inteiro.

Seu animal, seu amigo, ao seu lado, chora. Quer que você levante. Late/mia baixinho.

Você ouve, mas não consegue se mexer. Não sente o corpo, a não ser a leve sensação de estar grudado, molhado. Não percebe, mas seu rosto é sangue. Quando percebe, desmaia.

Perdeu muito sangue. Já não sente mais nada. E nem pronunciar um mísero som. Fraco demais.

Seu amigo agora late/mia de fome. Sete dias sem comer.

Desmaia. Acorda. Latidos/miados. Há um pedaço de carne solta na sua testa.

Desmaia. Acorda. Latidos/miados. Há um pedaço de carne solta na sua testa.

Desmaia. Acorda. Não há mais latidos e nem miados.

Percebe que não enxerga como um olho e que o outro está absolutamente imprestável.

Com o pouco que vê, vê o amigo.

E o amigo lambe os beiços.

Desmaia. Não acorda.

Nenhum comentário: