segunda-feira, 23 de março de 2009

Asa a cobra


Eu não posso ter dinheiro. Quando tenho, dou. Ou gasto fácil. É a história de Deus não dar asa a cobra. Imagina se desse? Ok, imagina que exista um Deus lunático, preocupado com bizarrices como a anatomia dos répteis. Um Deus que gasta seu tempo pensando em itens que podem ou não podem ser grudados nas costas de uma cobra, por exemplo. Então esse Deus poderia ter resolvido, após muito estudo e entrevistas com especialistas, que cobras deveriam voar. Vá entender os motivos. Talvez elas colaborassem para o controle da população de pombos nas cidades, ou de morcegos no campo, ou de mosquitos na praia. Cobras não parecem ser fãs de mosquitos. Pronto. Cobras teriam asas. E voariam felizes. E apareceriam nas varandas de grandes prédios, e, em função disso, existiriam diversos inseticidas no mercado voltados ao extermínio dos pobres bichos peçonhentos. Tudo bem, não seriam inseticidas, mas cobricidas. Homicidas. Cobras voariam e quebrariam o silêncio de quartos fúnebres com o chacoalhar de seus chocalhos. E esse seria o som do medo e da graça. Cobras voariam e se enroscariam em lençóis e pernas em cópula. Mulheres dariam luz a meninos-serpente. Isso se Deus desse asa a cobra. Mas sei que a cobra também não dá asa a Deus.

Deus que é pai de Jesus. Jesus que é pai de muita gente. Deus seria o avô se ele e Jesus não fossem a mesma pessoa. Dupla personalidade. Tripla, com o espírito santo, que dizem ser uma pomba. Pelo que dizem, seria uma pomba gigante, de penas grossas, já amareladas. Velha e feminina. Um deus-pássaro mitológico, pagão talvez, saído de um grande e escuro ovo de ouro. Talvez filho e avô da galinha dos ovos de mesmo valor. Não importa tanto. Vejo o mundo do século XXI e enxergo o passado. As idéias, as roupas, os desejos, tudo é muito antigo. Datado. Cansativo. Folclórico de tão ingênuo. E há a força, a forca e a crença. No deus branco chamado Jesus Jones de Nazaré. Aqui e agora, executivos e mendigos debatem a Bíblia. Discutem a glória e a subida aos céus no terceiro dia. Lembram-se do pães, dos peixes e de longas caminhadas em cidades de nomes já devidamente aportuguesados. A palavra, conhecem desde sempre, por influência de pais, avós, tios, escolas. Por influência da tv, dos mocinhos e bandidos. Fé em Deus, DJ. Graças a Ele conseguimos os três pontos. Amar quem pode lhe ferir pode ser uma boa estratégia. Amar o céu por medo de que ele desabe. Como bem disse Jóbson, que tentou me evangelizar durante o Mundial de Clubes de 2000, no qual trabalhei, se o Maracanã cair, ele, lá dentro, sabe que se salvará. Claro, pois aceitou Jesus como seu senhor e salvador pessoal. Duvidei dele, que riu. Perguntou se eu não sabia que Deus havia criado o mundo em seis ou sete dias. Gargalhou quando lhe falei sobre microorganismos, pressão atmosférica e outras palhaçadas.

Pois ele credita suas vitórias à sua fé no divino. Acabo ignorando tais vitórias, conseguindo pensar que talvez ele tenha fé pra caralho. Ou seja cego. Criativo. Louco. Foda-se. Não ganharei nada com ofensas às crenças alheias. Mas, cara, não se deixa o mal em paz...

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